Thursday, December 29, 2005

Então... Aí está.












Wednesday, December 28, 2005

Vontade! Isso é: existir porque com vontade, com prazer de (re)descobrir idéias, formas e intenções. Vontade de entender que nada tinha entendido, que, talvez, o significado das coisas não seja nunca um, mas vários. Quando, folheando um livro, lembramos que, em muitos, muitos lugares do mundo, quem sabe do universo?, diversas pessoas seguem numa vida-lego, programada, cheia de encaixes perfeitos, ficamos com aquelas perguntas inquietas e azedas na cabeça. Mas as respostas têm vindo, ao menos em parte, de mansinho. Sim: a questão é: algumas pessoas se dão melhor com o previsível, com o testado. São as pessoas que nunca mudam o caminho de casa, que repetem os restaurantes, o chaveiro e os produtos de limpeza, que usam as mesmas marcas de cueca, que sentam naquele - e em nenhum outro - assento do sofá, que ajeitam a franja sempre para o mesmo lado, que ajustam o sinto no mesmo furo, que - como brincou Cortázar - apertam a pasta de dente sempre a partir do fundo. Enfim, essas são as pessoas que você conhece melhor, porque, como fiéis seguidores, proliferam as regras do mundo. E têm as outras também, menos numerosas, mas não menos paranóicas. Um professor meu batizou essa gente de "inquieta". Pois bem, esses são os que enfiam o pé na jaca só para experimentar o porquê da expressão. São também os que decidem a geléia de damasco no u-ni-du-ni-tê. Essas pessoas, acho, não fizeram exatamente uma opção. Aconteceu, e só. Isso: quando se deram conta, estavam já bem longe do jantar de família agendado para a quinta-feira. Ah, quando disseram "mas...", reponderam "e?". Acho que a confusão do mundo, o excesso de notícias e informações, o fetiche da tecnologia - com zilhões de celulares, ipods, computadores, câmeras digitais -; isso tudo tem favorecido a germinação da tal estirpe de inquietos. O aquecimento global também - ou você se esquecerá de que os melhores fungos e as melhores bactérias só crescem no quentinho?

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O falso infinito (imaginário) de nossos desejos é a expressão de nossa finitude real: por não sermos tudo, sempre desejamos ser algo. (Sponville)


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Lo democrático no es, por sí mismo, "bueno" sino "eficaz". Los deportes de masas, el turismo industrial, las grandes superficies como lugares de entretenimiento y consumo, o el arte actual, son fenómenos democráticos, espectáculos masivos, movimientos de millones de personas con colosales poderes económicos y escasa libertad. Se parece bastante al nazismo, con una diferencia esencial: los políticos democráticos procuran programar aquellos conciertos que les gustan a las masas, en lugar de adoctrinarlas con conciertos que las agobian y agreden. Pero en algunos lugares, los profesionales de la vieja política, los viejos historiadores, los teóricos y expertos de la escuela trascendental o nacionalista, siguen actuando como sacerdotes cuya obligación es conducir al Pueblo hasta el Valle de Josafat y enseñarle a comportarse debidamente. A los pobrecitos habitantes de esos lugares los machacan con una política eclesiástica, de formación al espíritu nacional, en línea con la militancia sacerdotal que destruyó a Europa en los últimos dos siglos. Felizmente, al cabo de unos años los ciudadanos acudirán al mercado para comprar el político que más les apetezca. Ya veremos si es Schoenberg.
(Félix de Azúa)


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Um ano em discos:

Broken Social Scene - s/t
Explosions in the sky - The Rescue
World's end girlfriend - The Lie Lay Land #2
Luisa mandou um beijo - s/t
Hacia dos veranos - Fragmentos de una tarde somnolienta
Wedding Present - Take Fountain
The Legends - Public Radio
M83 - Before the dawn heals us

Monday, December 26, 2005

Choose Life. Choose a job. Choose a career. Choose a family. Choose a fucking big television, choose washing machines, cars, compact disc players and electrical tin openers. Choose good health, low cholesterol, and dental insurance. Choose fixed interest mortage repayments. Choose a starter home. Choose your friends. Choose leisurewear and matching luggage. Choose a three-piece suite on hire purchase in a range of fucking fabrics. Choose DIY and wondering who the fuck you are on a Sunday morning. Choose sitting on that couch watching mind-numbing, spirit-crushing game shows, stuffing fucking junk food into your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pishing your last in a miserable home, nothing more than an embarrassment to the selfish, fucked up brats you spawned to replace yourself.

Choose your future.
Choose life.

Lembram-se disso daí? Faz 10 anos quase. E aí, em que pé estão? Escolheram a vida já? Acontece aos poucossssssss. E não sobra nada.
Confesso que, nessas horas, o peito aperta.

Sunday, December 25, 2005

Foi: ano em que o movimento disse "estou por você", ano do desaburguesamento, do nossa,-isso-existe!; período em que ficaram uns amigos, vieram outros. O risco das próprias crenças; a convicção de que lá-para-lá-de-longe é aqui, de que somos personagens de uma história cuja autoria, porque coletiva, é anônima. Descoberta do valor do meio-mastro, do esconderijo da dignidade, onde todo temor afirma as próprias vontades. Isso: ser menor que o próprio medo, humildade que vale a força da sobrevivência. Isso também: entender o silêncio como instrumento de expressão, descobrir a fragilidade de todos os limites - a fragilidade de tudo, porque a gente acaba. Desdobrar as dúvidas em pensamentos úteis; mudar o telefone, mudar o endereço. Deixar de ser, porque ser é movimento. Ano de fartura, mas nem muito nem pouco sexo. E ninfas imaginadas, parcas ensolaradas. Ano de troca de papéis, de saberes fugidios, de reconquistas, de dinheiro, de saúde e infecções, de túneis abertos mas intocáveis. Ouro sujo. Ano de superstições, acima de qualquer contestação. Ascetismo, ou ceticismo, a crença no nada, que é. Esperança como condição de existência. Crença que está para deixar ficar. Jogos de tênis, jogos entre irmãos, jogos de família. Tempo de paisagens incansáveis, de consistências líquidas, de saudades densas, de alegrias passageiras, de desenhos animados, de receios fictícios, porque não há estático, não há estado que não mude. Ano do clube, del club, da língua rebatizada, dos gestos redesenhados, de idéias que vendem. E venderam. E desmancharam. Discos, muitos discos. Broken Social Scene, Legends, Skinny, Chorus. E Luisa. Explosões do ano. Tardias - uma carona aí? Pop, assobio que acalma. Que atiça. Ahhhhh, foi ano do distanciamento; às vezes, da aproximação. Do que chegou, do que saiu. Mãe. Sei, sei. Data em que livros cresceram no criado-mudo. Em que citações valeram pontos. Títulos. "Então, ontem, achei que tudo valeu a pena." Então, valeu? Ano disso daqui, do impasse infinito entre o sim e o não. Do encontro com a aflição alheia, do empréstimo do seu guarda-chuva. Que ficou para trás tal qual proteção da chuva que foi. Frio e céu azuuul. Sacolas pagas de supermercado. Pílulas incandescentes. E o sagrado? A lágrima que escorre, ou a cosquinha que ameaça. Dias de idas e vindas. De idas - e ponto. Ou de vindas? Tanto, tanto foi. Mas foi, e está ido.

Friday, December 23, 2005

Wednesday, December 21, 2005


Ya, ya, Europa es el continente del arte. Y por qué nos mató a los sudacos?

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Pois um dos grandes dilemas nossos refere-se às cobranças entrecruzadas e embaralhadas. Tenho pensado sobre isso, especialmente sobre o paradoxo "normal, mas não mais 1".

A cada novo passo, uma nova solicitação. A cada nova tentativa de exprimir-se, de apreender um utópico "eu", a necessidade de conciliar-se com as expectativas alheias. O tempo todo, em todos os lugares, a busca - urgente - pelo conforto da curva normal, sob pena de, aberração!, ser alvo de toda sorte de piadas. As boas maneiras, as roupas que-sim e os círculos sociais são todos instituições normalizadoras - não à toa, ensinam e programam tantas leis, regras ou, não por acaso, noooormas. Sempre chatas, arbitrárias e repressoras. Assim, de um lado, vê-se o movimento em prol da normalidade, da assimilação das características que nos aproximam da maioria. Porém, e também, somos ensinados, desde sempre, a não enxergar com bons olhos a anormalidade, a estranheza, o desvio (ainda que padrão). Acontece que os mesmos pais (e não se entenda por pai unicamente a figura do pai, claro) e o mesmo coro social do "seja normal" impõem, não com outra delicadeza, o problema do "ser mais um". De outro modo: é preciso ser igual aos outros sendo melhor que eles. Sempre. Aí: não, não devemos nos conformar em existir como peça diluída, anônima, tão contente em ser apenas medíocre. Não, a publicidade diz que não. A igreja repete - é preciso ser diferente dos que pecam. As escolas, as universidades: "você não quer acabar como o Guilherme, quer"?

Que o sujeito do nosso tempo esteja confuso não é, pois, de pasmar ;)

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Se encarnasse uma coisa, que fosse árvore. E correr
o risco de ser o palito de madeira escondido no esqueleto de uma pipa ;)

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Ao que parece, a massa terá sempre, à parte mas integrado, um pozinho de farinha que adere sem dar liga ;)

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http://www.microbians.com/ -
Ilustraçõesssssssss

Tuesday, December 20, 2005


Trecho de um conto que estou escrevendo ("O caça-pombas"), ainda por terminar:

O grande plano, trancar uma pomba, ou um pássaro qualquer, num caixote de madeira roubado da feira do bairro, tinha traços dessa lição aprendida com gente crescida. Pais, tios e avós, atormentados com a renúncia da própria vontade, dobram-se sobre esses pequenos incessantes, sempre em nome da boa-educação, para economizar-lhes a alegria de bolar o próprio sonho. Assim, nos anos seguintes, Vítor entraria para a escola, escreveria linhas e linhas de caligrafia, ingressaria também na escola de línguas, no clube, no conservatório; depois, mais tarde, já convertido, mas à sombra da primeira imaginação, o rapaz estaria cercado pelos muros da universidade, do escritório, de casa e da nova família. Incrivelmente, essa inveja do vaivém alheio brota cedo, talvez entre a grade do berço, ou naquele cercado de rede onde a gente aprende, desde bem molequinho, a lidar com os brinquedos possíveis. Vítor, sabido-você, tinha já se iniciado na arte de fazer a liberdade dos outros menor que a nossa. No quintal, com um copo de cola Tenaz em mãos, saía à procura daquelas formigas-pretas-e-grandes-que-ficam-no-canteiro-da-frente. Ahh, como ele gostava de caçar as formigas e espreitar, por minutos, às vezes por horas, o pobre inseto esgotar seus movimentos patinando no creme pegajoso. Depois, no dia seguinte, quando, mágica!, a cola perdia o branco e ficava transparente, Vítor ficava especulando sobre o que estaria pensando a formiguinha. Na verdade – e precisamos aqui absolvê-lo -, Vítor não tinha todo esse entendimento sobre liberdade tolhida. É certo também que, voluntariamente, ninguém tem, nem os mais velhos; mas Vítor, sonhador acidental, vira na televisão um filme sobre pessoas-que-congelam-para-acordar-no-futuro. O experimento com a cola era, em primeira instância, uma reprodução não muito bem sucedida dessa técnica; a maldade mesmo só acumularia com tempo.

Sunday, December 18, 2005


Dias distantesssssssssssssssssssssssssssssss, sempre tão presentes


Algumas paisagens são assim, lembranças desbotadas. No final, são sempre imagens, frágeis e finitas. Aliás, as narrações que existem com a memória são sempre versões atualizadas, e mentirosas, do que um dia foi. "Só existe o presente", insistem as pessoas de razão. O que não é não foi, nem será, ou melhor dito: o que foi sempre será. Presente de quando foi. Ânnn? O passado que é lembrança, por ser no presente do indicativo, por isso "é", estará refém do presente eterno. E os tempos verbais, são só variações do nosso pensamento não-linear? Hummm, talvez. E isso aqui, o que é - presente de quem lê e nunca passado de quem escreveu? E as fotos, são, do mesmo modo, presente, experiência presente de quem as observa?

Saturday, December 17, 2005

Cortázar foi mesmo escritor sortudo. É incrível como acertou a mão nos textos que escreveu. Esse que segue logo mais é uma tradução minha (liiiiivre) para a abertura de Historias de cronopios y de famas. No livro, Cortázar percorre, cheio de ironia, o rotineiro. Encontramos “instruções para subir escadas”, “acertar o relógio”, “entender pinturas famosas” etc. Sempre um olhar inesperado sobre coisas já vistas. Nessa introduçãozinha fantástica, que não leva título, ameaça uma esperança possível, mas, com inteligência abrupta, logo se rende ao des-espero (filosofia do nada-esperar) de Sponville. Fodido!
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A tarefa de amaciar tijolos todos os dias, a tarefa de abrir passagem pela massa pegajosa que se proclama mundo; cada manhã, topar com o paralelepípedo de nome repugnante, com a satisfação vira-latas de estar tudo no seu devido lugar: a mesma mulher ao lado, os mesmos sapatos, o mesmo sabor da mesma pasta de dente, a mesma tristeza das casas da frente, do sujo da placa com o letreiro “Hotel Belgique”.

Meter a cabeça, como um touro entediado, contra a massa, no centro da qual tomamos café com leite e abrimos o jornal para saber o que aconteceu em qualquer um dos cantos do ladrilho de cristal. Deixar que o ato delicado de girar a trava, esse ato pelo qual tudo poderia ser diferente, se cumpra com a fria eficácia de um reflexo cotidiano. Um beijo, querida. Tenha um bom dia.

Apertar uma colherinha entre os dedos e sentir seu latido de metal, sua advertência desconfiada. Como machuca negar uma colherinha, negar uma porta, negar tudo o que o hábito lustra até deixar com uma suavidade tolerável. Tão mais fácil aceitar a presteza da colher, usá-la para mexer o café.

E não que seja ruim topar com as coisas todos os dias e que sejam sempre as mesmas. Que a nosso lado esteja a mesma mulher, o mesmo relógio, e que o romance aberto sobre a mesa comece a andar outra vez na bicicleta das nossas lentes - por que estaria mal? Mas, como um touro triste, é necessário abaixar a cabeça, do centro do ladrilho de cristal empurrar para fora, para outro tão perto da gente, inacessível como a trava tão próxima do touro. Castigar os olhos olhando para isso que anda pelo céu e que aceita tão timidamente o nome de nuvem, a réplica que fica catalogada na memória. Não acredite que o telefone vai lhe dar os números que procura. Por que daria? Somente virá o que você já tem preparado e resolvido, o triste reflexo da sua esperança, esse macaco que se coça sobre uma mesa e treme de frio. Quebre a cabeça do macaco, atravesse o centro da parede e abra caminho! Oh, como cantam no apartamento de cima. Existe um vizinho no andar de cima, com outras pessoas! Existe ali um apartamento onde vivem pessoas que não suspeitam dos vizinhos de baixo, porque estamos todos cegados pelo ladrilho de cristal. E se, de repente, uma mariposa pousa na ponta de um lápis e brilha como um fogo cheio de cinzas, veja, eu estou vendo, estou tocando seu coração pequenininho, e posso ouvi-la; essa mariposa ressoa nos ladrilhos congelados. Nem tudo está perdido! Quando abrir a porta e alcançar a escada, saberei que, mais abaixo, começa a rua, não o modelo de rua encomendada, não as casas já conhecidas, não o hotel da frente; a rua, a viva floresta onde cada instante pode cair sobre mim como uma magnólia, onde todos os rostos vão nascer no exato momento em que os observar. Quando avançar um pouco mais, e a nova rua romper os cotovelos, as sobrancelhas e as unhas, refazendo o ladrilho de cristal, será quando, jogando minha vida, avanço, passo a passo, para comprar o jornal na banca da esquina.

Friday, December 16, 2005

As mentiras que as empresas contam (parte I)

63% das empresas consultadas pela Ipsos Opinion (2004) afirmaram que “a identificação do projeto com a marca” é uma das principais razões para sua aprovação.



Esse daí (ilustração com o microfone) foi o anúncio do Claro q é Rock. Originalmente, ele é colorido, mas deixei em pb para ressaltar quem imita quem nessa história. Do lado esquerdo, estão campanhas da Claro; do direito, os artistas contratados para o festival. Sabe o que me incomoda? Não é o patrocínio, logicamente, mas a facilidade com que as pessoas se deixam enganar. Esse jogo do me-engana-que-eu-gosto, no qual nossa juventude sabida e descolada faz de uma combinação de marcas seu "distintivo", é, no mínimo, triste. Disseram que tinha uma rapaziada com a camiseta da Claro, é mole? Nosso papel, qual é? Tornar-nos alvo menos fácil. Não posso ter perdido - à toa - horas e horas de discussão com meu pai (!); é preciso acreditar que possa ser diferente, mesmo tendo concordado que sofre menos quem nada espera dos outros e do mundo ;)

Thursday, December 15, 2005

MANOLO AND THE PUNKS - DISCOGRAFIA COMPLETA


DOGS MEAN A LOT (Sinal Discos, 1999)

"Dogs mean a lot" é o primeiro ep da banda, editado em 99, de forma totalmente independente. Nele, estão as clássicas "Puto país", "Buenaventura" e "Dogs mean a lot". O título e a capa são sátiras, valem-se de uma elegância nada comum nas gravações toscas que marcam esse primeiro trabalho. Os vocais lembram muito Jarvis, e as letras mesclam anarquia, desilusão e ironia. Ah, o título tem um quê de desesperança nas pessoas, impressão que será escancarada no trabalho seguinte da banda.


LOS AMIGOS PREFIEREN EL DINERO (Experimentos Occidentales, 2002)

Alguma grande decepção Víctor J., voz e baixo da formação, deve ter tido para compor as letras de "Los amigos prefieren el dinero". As músicas são rasgadas, as guitarras altas e secas, a mixagem é simples, e as hamonias vocais roubam a cena - Carolina Guimarães (na época, "la novia" de Víctor), participa de 7 das 11 faixas do disco, em duetos cheios de contraste. Destaques: "Mi amigo ahora es rico e infeliz", "Des-espero", "Un mundo para mí" e a excelente "Amistades en venta".


LOS CIUDADANOS SOMOS UNOS REHENES (Experimentos Occidentales, 2005)

Publicado esse ano, "Los ciudadanos somos unos rehenes" é quase perfeito. Os arranjos foram enriquecidos com teclados e violinos, as guitarras ganharam distorções derramadas, e as letras, não menos críticas, agora são mais líricas. "Os cidadãos somos reféns", apesar do título, não é a melhor faixa do álbum. O hit é "Club de las Serpientes", música inspirada no livro "Jogo da Amarelinha", do argentino Cortázar. São excelentes: "Carrer Provença", "Triste", "Saturday I'll play tennis, cause today I'm going out with my old girlfriend" e a rápida "A título de curiosidad".


Wednesday, December 14, 2005



Des-espero, a filosofia da não-esperança



"Essa noite escura do pensamento é o silêncio. É necessário muito tempo para chegar a ele, e muita coragem. Porque a juventude é tagarela, por impaciência, e a velhice também, na maioria das vezes, por covardia. (...) É necessário começar por essa noite. Deter-se nela. Enfrentar essa angústia. É por isso que muita gente nunca começa, e fica girando a esmo diante das portas de si mesmos. Falatórios e diversão, jogos do sentido e da ilusão, caminhos e descaminhos do mundo e da alma: labirinto. Mas às vezes alguns se fartam. Há dias em que não suportamos mais o falatório. Paramos. Enfim, o silêncio. Enfim, a solidão.

E cada qual deve procurar novas razões de viver e de esperar. É imperativo suportar o presente e preparar as decepções por vir... Assim, a tristeza gera tristeza, e os consolos de hoje preparam as decepções de amanhã. Cada nova esperança só existe para tornar suportável a não-realização das esperanças precedentes, e essa fuga perpétua em direção ao futuro é a única coisa que nos consola do presente."

Essas palavras são obra de Sponville, filósofo francês incrivelmente conectado com esse nosso tempo. Recomendado.

Minha vó disse: tristes somos nós, na minha idade. Não vivemos do presente nem acreditamos no futuro; nossa existência são recordações.

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