Tuesday, April 29, 2008

Era sonho, era sonho, era sonho, caramba.
- Esse pote de biscoitos guardado no armário de baixo tem quanto tempo aí?
- Você reparou, foi?
- Vi, claro. Deve ser minha milésima vez na sua casa; não sei quantas delas nesse armário. Sempre: "o azeite, lindo; traz o azeite". E esses biscoitos caseiros, ali, eternamente tampados.
- É para quando o Alê voltar.
- Alê?
- É.
- Mas o Alê sou eu.
- Eu sei.

Monday, April 28, 2008

Vocês? Não sei. Quer dizer, tenho um monte de idéias a respeito, sabe, a coisa toda muda quando pedem: "fala". E acabo não falando, sem graça. É que a gente não tem certeza de nada. E mesmo o Prêmio Nobel de alguma coisa cheira sempre a opinião. Caramba, escutassem agora, matavam, "barbaridade". Eu, entende, esse papo do Bruno, a vida como plano a curto prazo, essa vontade de correr o mundo, colecionando pessoas diferentes, inflando cada dia com mais significado, até a infinidade de tudo massacrar essa cabecinha que dorme sozinha nas noites de maio. E do ano inteiro. Sei: tem o hábito, a convivência, tudo que se fez, feito lá atrás; o medo de arriscar o que foi bom pela incerteza das coisas que podem ser... Mas, sendo uma, a vida, o risco há de valer a pena, não? Sei lá. As historinhas que a gente leu no tempo de criança, que a gente leu e esqueceu, tanta coisa não precisa ser de novo, nem continuar a ser. Permanecem boas, ainda assim. Ainda. O friozinho que corre a gente, sintoma de saudade... Não voltar mais não me diz "tem de ser de novo". "Foi bom", se disser, eu, pra lá de satisfeito. E saudoso, o que é que tem? Tenho dançado cada vez mais no quarto vazio, delírio cada vez maior, os episódios que imagino, e enceno, escondido da realidade que entedia os outros. Tem que ser assim, rapaz. Só sendo. Senão, fica duro demais, sem sentido, porque o sentido da vida que é nunca vai ser, a gente não sabe que sentido tem o aperto no peito que coincide com o cheiro de Big Mac da JK, antes do incêndio, 88. Não, não, não foi só quando li Erefuê, ou Esperando Godot. Juntei poesia quando voei do carrossel do clube, 6 anos. Entende agora? Não preciso ler de novo, nem ver Adeus, Lênin pela oitava vez; sei que foi bom, e vai ser sempre: não preciso repetir a seqüência de sensações que molhou o olho na estréia. Ela ficou em mim. Sala de cinema, pouca gente, Yann Tiersen. Comprei a trilha, em vinil. E não preciso comprar de novo para entender o que eu senti, aquela bolacha enorme, o papel de parede tão russo, numa prateleira da Fnac, em Paris. Sei, sei, dou volta sempre, exemplos mil, mas explica, acho, que o valor das coisas não está na repetição. O primeiro choro, a primeira risada, ou mesmo a primeira frustração, só ganham sentido e força numa história de choros, risadas e frustrações completamente diferentes. Nosso combate é somar todos os dias. Com uma colher de arroz mal temperado, ou com o beijo de uma atriz mexicana.

Thursday, April 24, 2008

- Sei. Um dia, zanzando, encontra um blog. Tá. Aí, lê o penúltimo post, música que faz chorar. Alguma coisa assim, certo? Manda e-mail; o autor devolve a mensagem, com um "temita". Você acende um cigarro, separa uma dose de licor e umas bolachas cobertas de chocolate. (Não fica doce demais, não?) Põe play num programa que, se não me engano, você chama de "Tunes"? (É isso?) E, curiosamente, em conformidade com a previsão de um parágrafo raso, chora. Isso, claro, você contando agora, tamanha coincidência. Sei, entendo. Quer dizer, tento entender, não vi caso semelhante. E chora porque conhece a música, é isso? Certeza de que já chorou antes. Perfeito, sem que haja precipitação, palpite simplesmente, vejo a possibilidade de um caso de regressão espontânea, a supressão quântica do tempo social, a vigília do espírito perturbado, o escape carnal, entende? Claro, claro, hipóteses ainda. Não, não, gozado. Você, a música, o blog. Sei, Leandro, personagem do sexto capítulo do seu segundo livro, criança, coral da igreja, cantando alguma coisa, assim, muito parecida, a melodia, sei, sei, para não dizer igual. Claro, consigo imaginar o espanto, sem conseguir imaginar o que se ouve de um conto escrito, senão a imaginação. Veja bem, não duvido, que é isso... Perdão. Tantos os casos, o acaso e o mundo que a gente desconhece. É que, sinceramente, primeira vez que, sabe, isso, como, uma melodia, roubada da ficção. Não, não, não se preocupe, é só impressão com a novidade do caso, o incrível da vida e do mundo por ser, que é esse mundo sendo ao redor. Desculpe a intimidade, não entenda como intromissão; às vezes é, eu sei, curiosidade talvez, mas, se não se importar, somente com o intuito de esclarecer, prever e medicar o caso, posso, se quiser, evidente, posso, claro, dentro do limite da relação profissional que nos aproxima (e afasta - pensou), por acaso, receber e ouvir, claro, não aqui, mas receber e estudar esse "Acto de constricción"?
- Pode, sim, doutor. Com gosto. Mas quem falou no título da música?

Friday, April 18, 2008

- Então, você chora muito ouvindo música?
- É, às vezes. Diversas vezes, na verdade.
- Tenho vontade, mas é complicado comigo. O olho enche, e não transborda. Engraçado, né?
- Adoro essa sensação.
- Estar triste?
- Não, não. Esse olho recheado, sem pingar. Quando acontece isso, fico tão bem. Têm dias, vindo de casa para o trabalho, cruza o vento com diversas coisas que lembro, ou invento, tudo tão perfeito no cinema que guardo na cabeça - os olhos borram a paisagem com toda essa lágrima represada.
- Um exemplo.
- Uma festa numa chácara perto de Buenos Aires; uns amigos e eu dançando "Djobi Djoba", com um lago no horizonte, em maio de um ano que ainda não existiu. Eu me lembro com todos os detalhes.
- Não, um exemplo de música...
- Ah... Uma que tem cumprido o papel: "Acto de constricción".
- Tem como ouvir? Quem sabe acontece comigo...
- Claro, vai acontecer. Manda um e-mail para soyjulius@gmail.com, com "temita" no assunto, e respondo em seguida. Mando a música, evidente.
- Obrigado, chico.
- De res, meu amic.

Thursday, April 17, 2008

Daniel tinha o costume, hábito mesmo: olhar as paredes de cada cômodo da casa. Antes de tudo. A foto da namorada, uma gravura do Dalí encartada na revista semanal, São Paulo bicampeão, as latinhas de cerveja, o pôster da Playboy, a turnê do Depeche Mode ou uma fotografia do Museum für Moderne Kunst, em Frankfurt. Para cada família, um detalhe que chama a atenção para fora do conjunto médio. No pôster, o medo, a devoção, o lugar de passagem, a liberdade ou a perversão. É o que é, em cada um. "Em nós", pensava, conforme invadia e pisava num quarto novo. Longe, em países diferentes, uma composição roubada de janelas e portas entreabertas: "a gente tem que entrar na casa comum". Nesse caminho até a biblioteca do pai da Bia, advogado, de volta ao dia em que massageou a barriga, suada, no carro de uma colega de trabalho. "Não, não, pode parar aqui, tenho que almoçar no shopping mesmo". Correndo para o banheiro, desidratado. Ou o tempo em que escrevia frases em inglês. Por qualquer motivo. "Me definir num fotolog, numa página do livro de literatura espanhola". Que cretinice, caramba. Dizer o que eu sou numa língua que não é minha. E diz? Se perguntava tanto, tanto. É porque dizia, concluiu. Medo de falar em mim, puxo estilo, noutro idioma, e demonstro minha insegurança, soubesse. Num quadro azul, no mesmo corredor da casa, viu a praia do Leblon, cada vez que faz a curva, ó, o mar do Rio, meu tio, o sorriso no rosto, tem sorvete para todo mundo, espírito quebrando copo de cristal na varanda do apartamento. "Ai". A vida fica bagunçada, opa. Bagunçada. A cumplicidade na falação do trabalho, o que eu vou ser quando crescer (e acreditava que escolheria), a usura, o trio mesquinho na sede de dois trocados, o acidente no braço, a aula de Kant em Filosofia II, a porta da USP alguns anos depois - entro? Hein? Depois de tanto tempo, deve ser só amizade, la buena vida, los mejores momentos. Ai. Essa mania de encarar o pôster na parede, esse labirinto de tudo que transpira ficção. Não, muito pior quando um irmão detesta a arte que me diz mais - dói menos a rivalidade do gosto pela mesma mulher. Eita, Sponville, você grudou em mim.

Saturday, April 05, 2008

Eliana roça Fred ao meio dia.
Ahhh, ufff... Au, au.

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Thursday, April 03, 2008

No espetáculo de domingo à tarde, ish, o número falha.
Helô tropeça: luz vermelha é sangue na platéia.

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Wednesday, April 02, 2008

Paula conhece Rilke. E espera por Deus.
Que não virá

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Tuesday, April 01, 2008


Marcella não bebe mais.
Overdose de álcool, em gato, é último miau.

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Maurício decide mudar de idéia. E muda.
Culpa do pôster na parede.

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