Monday, July 30, 2007


Aí está, finalmente. Arrepia porque vale a pena. O delírio pode ser grande, que a vida ganha em dobro. Pop experimental, indie-rock, folktronic, electropop, post-alguma-coisa, tudo em sotaque latino-americano, que estamos sendo, agora. O começo de um mundo novo, sonhado num quarto pequeno, sem medo de monstros grandes. Preço: R$ 10. Por e-mail: soyjulius@gmail.com. Agora é para sempre. E o oceano é nosso.

Mais: http://myspace.com/sinopuedobailar .

Thursday, July 26, 2007

O problema é ser palavra. Não sei. Veja: o problema de qualquer coisa é ser o que ela é, sem ser de fato o nome que tem, entende? Digo: é aí que começa o problema. Um dia, depois do lanche, no meio da tarde, da noite, com ou sem azia, pouco importa. Você levanta da mesa, deixa o prato na pia, recolhe o feijão, amassa o guardanapo, sente o fiapo entre os dentes, escorrega na cerâmica, aperta o botão, experimenta a sobremesa, até responde à campainha. E, então, de repente, porque coisas assim são sempre acidente, você estala, apita, vem a conta de que "azia", "prato" e "pia", ou qualquer palavra, Jesus, dariam muito, tudo que têm, para pular para fora, existir absolutas, senhoras de si, fora de uma grafia que obedece a hora e lugar. Ah, palavra, que mal você nos faz. Triste com, impossível sem. Amo, odeio. Me tens seqüestrado: eu, você, meu mundo inteiro. Aí, evidente, você dirá que sim, que evidentemente, que claro, você não percebe, tudo, o universo todo existe sem a imaginação. E eu, brilhando, confuso, um pouco fora daqui, farei que não, sem pensar duas vezes vou gritar que sim, que eu sei, Senhor, nasci de Deus, sou igual a todos os meus irmãos. Amém.

Sunday, July 22, 2007

Quando o desenho for maior e mais colorido, num dia de céu limpo, com casa e montanha, sol e sorriso, vou dizer, de novo, aconteceu de eu crescer feliz.

Friday, July 20, 2007

Depois, descobrir o número do sapato, a duração do disco, a essência do sabão, a extensão do risco. Sempre o mesmo desencanto por ter de fazer as coisas sem saber por quê. Rafa, veste a camisa, moleque! Chego do mesmo trabalho, alterno as mesmas quatro ou cinco músicas; não entro num trem sem agendamento, fico com medo de perder a hora, de esquecer o caminho; medo de errar a língua, de segurar o garfo na mão direita, de atualizar a caixa de entrada; olho o relógio todos os dias, não vou pensar que me mata mais rápido. No trajeto, um motorista: não entendo, rapaz. Incapaz de explicar o porquê. Digo, garoto, atenção: só não entendo como, com vida longa vivida, trabalho de 12 horas/dia, não chego para pagar a faculdade de engenharia de um filho meu. Entende? Cresci, assim; sem estudo, sou bicho. Quis, para nunca deixar de querer, doendo mesmo, que esse moleque tivesse sorte diferente. Quero ainda, sabe? Mas o pobre tem pouco salário. O país sem caráter. Se gente feito você desiste. Com gramática, álgebra e biologia, e a opção em ser boçal - não tem amigo desse jeito? Então: o problema da educação, o país dos imbecis covardes - e se perco meu emprego? Não, rapaz, veja o jeito como você fala - nunca chegou a comer por fome. Diferente é o filho de gente como eu. Vê: se nem você encontra explicação... Com tudo que tem, e teve, com toda sorte e oportunidade, descrente de tanta coisa, do mundo e das pessoas. E eu? E Marcelo? Sei: quando você fala do mesmo lugar na mesa, da caneca que você leva para o quarto, do beijo seco da namorada, duma internet com pouca opção... É tédio, amigo. Apatia e desilusão. O tempo que a gente leva, roubado por dono de nada. Meu filho, acho, agora mais conforme. Vem dizendo: se chego a ser nada, terei tido pouca opção. Ao menos.

Sunday, July 15, 2007

(Boa vizinhança, Mr. Gialuca)
Não entendia, o que fazer? Depois, enquanto falava, toda a atenção no tique dele, no lado direito do lábio, fisgado. Falava alto de arte, de Sábato, do palco, você é de teatro, não? Não, não, disse. Digo, formalmente, não. Sou do teatro, na poltrona, serve? Enfim, enquanto o entusiasmo crescia, e ele contava da vida em Buenos Aites, do detalhe do banheiro do Borges; bem, enquanto se perdia na "conexão dos signos, porque pode ficar interessante", ensimesmadado, ficava sem entender que eu, nesse quintal particular, via e lia Sábato, Bryce Echenique, Ramón Ribeyro, Beckett ou Carrascoza, apenas para erguer minha própria ficção. Não, señor, não, não; quis dizer, calado. Aberto a boca e teria acentuado: que é isso, não é para ser, vê? Tão difícil entender que minha intenção não foi, sendo menos e menos, ouvir Marie Widor para deixar de escutar Balún, que um filme de Arcand não anula um clipe do Pulp, e que a melhor gravura do Nolde jamais tirou meu encanto com as tiras do REP. Ah, agora, mais confortável, seria tão fácil dizer: acorda, rapaz, tudo que me toca, porque se toca em mim, tem proximidade. Não, não seja idiota, já não preciso de tomo algum para saber que Pärt e Felipe Moreno são muito importantes na minha ficção. Não, entendo sua preocupação, quem vai ver, o acadêmico, o grande diretor de montagem nenhuma; sei, sim, claro, mas o mundo é arbitrário, sua teoria muda de gênero em qualquer outro lugar. Ah, Ledo, não se leve tão a sério; a gente junta livro, disco e mil teorias, por esperança, sempre - nunca por convicção.

Friday, July 13, 2007

O vento. Não, não, Víctor, o tempo.

Quando estive no mesmo campo, em lembrança ou imaginação, a sensação, muito semelhante. Cortar o ar, peito aberto, é para quem espera muito do mundo. Desesperançado, esteja! Meu leme pede os olhos fechados. A grama, no pé, mais alta. Molhada, a umidade me lembra tudo o que é verde. A rampa cheia de limo, em Ilhabela. O gol de 96, o empate com a melhor classe do colégio. A cor da água, o banho de caixa d'água, quando eu tocava o corpo dela - o verde da primeira excitação. Verde, porque não está maduro. Extasiado, sem gozo, não mais que oito anos, em oito minutos. Cuspo a manga, fiapo demais, crescida de menos. "De más" - te lo comenté, Víctor. "Dos o tres centímetros de más". O sofá, verde, sem caber ao lado da televisão. O risco, no tornozelo. Aqui, nesse mato sem cachorro, ainda piso um bicho para gritar. Socorro. O cheiro do verde. O calor, confirmação, porque stou vivendo. Enquanto lembro, chega a dor, saudade dos dias e amigos que fiz no alto da montanha, num país de bandas de rock'n'roll. Víctor, Víctor, escuto, estão chamando. Não, não olhe agora, meu irmão. Correu muito já - tão longo o caminho, tão distantes as marcas e sinalizações, que talvez a sede e a fome sejam grandes, e não haja maneira fácil de voltar.

Monday, July 09, 2007

Às vezes, a nuvem vem grande e escura. Sento sempre no mesmo banco do parque - pouco adianta, a vida nunca será a mesma; inventaram o dia seguinte. Dali, o lago muda de cheiro. Engraçada é a sensação de "nunca mais" que experimento toda vez. As árvores balançando, o céu dançando distante, dezenas de carros mudos lá para longe. Sento bem no meio, "tão estranho por querer estar sozinho". As paisagens que cruzam meu caminho pedem melodia. "Floriano, Floriano", pequeno Fox Terrier, sujo de lama. "Será que você me deixa gerenciar meu próprio tempo?", o noivo, fugindo da noiva. Pendular, tanta felicidade, seguida de tanta melancolia; a saudade, de coisas diferentes, permanece com gosto muito parecido. De vez em quando, o vento borrifa água nos olhos, ardem, é irritação, ou tristeza; o tempo não pede licença para ultrapassar o tempo da gente. Agora, mais rápido e menos paciente. "Vou fazer arte", imagino, outra vez. Com tanta fantasia, digo, inúmeros símbolos, mentiras infinitas, promessas, pequenas e grandes plenitudes, não, não vou poder, pois não consigo, ser, insensivelmente, conforme e comum. Tive urso de pelúcia, cicatriz, amigos sinceros, decepções sinceras também; professora enfartada, garota erotizada, carrinho motorizado, periquito macho, periquito fêmea, peixe de três anos, Snoopy no pijama, Abelardo Castillo, zoológico, hambúrguer e hot dog, com sorvete de creme e calda quente. Não, não tive, porque jamais teria; digo, não foi, tendo sido, e sido tão bom e bem, para, com tão pouco anos, negociar essa magia pelo azulejo novo do piso do banheiro.

Thursday, July 05, 2007

Perde e ganha

Vida tenho uma só
que se gasta com a sola de meu sapato
a cada passo pelas ruas
e não dá meia-sola

Perdi-a já
em parte
num pôquer solitário,
mas a ganhei de novo
para um jogo comum

E neste jogo a jogo
inteira, a cada lance,
que a vida ou se perde ou se ganha com os demais
e assim se vive
que o mais é pura perda

(Ferreira Gullar)

Wednesday, July 04, 2007

Saber combinar... Como? Quando a gente vê de fora, mundo diferente. Os sonhos são assim. Eu, você, do jeito que não há. Mas é tão, tão, digo. Tão. Basta um telefone, a voz do outro lado da linha, o que você anda fazendo? Um trago diferente, uma coxinha mordida na contramão. Vou bem, acho. Daqui, avesso do que vejo, o silêncio de quem observa sozinho. Sensação essa, hein? A perdição dos outros, perdidos tão-somente para olhos e ouvidos de alguém. Meu mal: encontrar demais. Nenhuma trombada é distraída. Tropeço, meu pé vai seco, não volta para casa sem um calo a mais. Mas por quê? - adorei a pergunta, desde pirralhinho. Explica, mãe, o Luis não é marido da Heloísa? Pode casar duas vezes? E ao mesmo tempo? Mentira de quem espera ver o mundo passar, passando por ele, cheio de promessas e dúvidas não-resolvidas. Todo mundo tem filho, pai? Professora, rei do Brasil? A utopia de chegar a ter certeza. Rezei, acreditando. Depois, rezei de novo, desenganado. De volta, a voz do outro lado: "claro, é meu primo, Víctor, você não entende?". "Desrespeitou você, Rafael. Só vai entender se ele comer sua namorada?". "A vida é mais que isso - e você não sabe nada da minha". "Vergonha de você, repetiu zilhões de vezes". "Errou, não pode?". "É respeito, Rafa. Respeito não admite negociação". Mãe, tem como recusar convite? O que vem acontecendo com você? Vou saber quando gozar na primeira vez? Cerimônias, agora, à custa de gente de precárias e pequenas delicadezas.

Tuesday, July 03, 2007

- Esqueci como se escreve, só isso.
- Esquisito, não?
- Mas é só uma palavra...
- Meu nome.

Que coisa pode ser um intervalo. As cores mudam; cada dia novo traz um sol mais fraco. A gente, meu Deus. Um olho mais míope. Uma música riscada. O duro de lembrar é constatar que mesmo os fantasmas vivem pouco entre nós. De volta à vontade de estar sozinho, qual tempos antes, diferente de tudo que seria depois. Seria? Sido, então. As conversas de antigamente. As pessoas tão presentes, ainda mais presentes - por ausentes. Na fila do supermercado, o preço do protetor labial. Um cachorro grande debaixo de uma escrivaninha apertada - "orelhinhas de humilde, era", sendo mais, agora, nesse tempo da falta e da saudade. "Quero isso", Daniela, "morrer encantado com poucas e boas pessoas". Os passos que experimentara longe dali, as descobertas - suas -, a revelação de uma glória inominável. Os livros que me confundiram, que acalmaram. Sem conversa, depois de tudo isso. O diálogo com a própria voz, às vezes tão estranha e desconhecida. Sempre a voz que, apesar de tudo, sempre conforta. No sonho de ontem à noite, caramba, comi a Carol, de quatro; eu, visto de fora, num sexo de perpectiva inédita para os olhos que, fechados e dormidos, são meus.
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