Monday, July 16, 2012

Juliana teve sempre esse jeito de cortar conversas para dizer alguma coisa que não fazia sentido para ninguém. Via de regra, levantando a franja com o indicador direito, olhando evasiva, até parece que todo mundo tem obrigação de ouvir. 
Estávamos Laura, Felipe e eu, em roda, fechando a pauta do zine que planejávamos desde janeiro, com um rock suave de 2007 no fundo. Caramba. Tantas vezes tentei organizar uma publicação, sem entender o motivo, ou por quem, convencido de que a gente precisa fazer as coisas porque são as coisas que fazem a gente e o nosso mundo, por exemplo essa roda de música, valer a pena. Caramba. 
Juliana interrompeu, ninguém reclamou, até eu preferi ficar quieto, deixando ela dizer, rápido, não perdíamos o fio, continuávamos depois, em tempo da mesma empolgação, de um insight revanchista, vamos ver.
- Vocês acham mesmo que vale a pena escrever sobre isso?
Nunca publicamos o zine, chegamos a escrever 27 páginas, layoutadas, mas ficamos com preguiça, sei lá. A música era essa daqui. 

Sunday, July 08, 2012

Toda noite penso que um jogo na televisão consegue deixar o mundo mais inofensivo. As coisas que eu sei, as que eu não sei. Quando lembro e quando esqueço. Um dia, inventaram a carroça, me falou Juliana agora há pouco, e me dei conta de que a vida toda dei a carroça por fenômeno natural. A natureza a gente não explica. Li num livro do Barthes. Li num livro do Carlos Fuentes. Assusta, mas não explica. É o que é. Soberana. Por isso a gente confunde Natureza, em maiúscula, com Deus. Não tem quem possa. 
Juliana pediu um cheeseburger de fraldinha. Pedi um hambúrguer sem queijo. Falamos do filme que vimos e não gostamos. Sou pouco fã de Woody Allen. Sou mais fã de uma garota que desenhou Woody Allen com caneta de pena. Num determinado momento, quis pensar que a gente estava viajando. Experimentando uma lanchonete numa esquina que não conheço na Cidade do México. Ou em Toronto. Até fiquei aéreo, distante, imaginando o gosto do sanduíche que ainda não comi em Chicago. 
Sentei agora porque preciso escolher o presente do priminho que vai nascer. Gosto de futebol de botão e outro jogo, de jogadores miniaturas e pés com alavancas; jogava super bem. Amanhã saio para a aula de inglês. Melhor dormir mais cedo. 

Monday, July 02, 2012

Podia ser uma terça-feira, uma quarta, mas a semana anda, corre, atropela os planos, a agenda, só para trazer Martín de volta a esse restaurante, essa esquina onde conheceu uma eslovena, onde bebeu vinho com dois brasileiros. 
Saindo há coisa de meia hora da aula de iôga, era segunda-feira, pensando nas pessoas que deveria articular para articular alguns projetos particulares, ouvindo a música de um conterrâneo, questionando o trânsito e as pessoas que insistem no carro, o plano de carreira e as pessoas que insistem em não levar as próprias vontades adiante; imaginando o que estaria fazendo Sol e Ricardo, última namorada e grande amigo uruguaio, Martín estava disposto, depois de 13 anos, a comer carne novamente.
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