Wednesday, December 14, 2005



Des-espero, a filosofia da não-esperança



"Essa noite escura do pensamento é o silêncio. É necessário muito tempo para chegar a ele, e muita coragem. Porque a juventude é tagarela, por impaciência, e a velhice também, na maioria das vezes, por covardia. (...) É necessário começar por essa noite. Deter-se nela. Enfrentar essa angústia. É por isso que muita gente nunca começa, e fica girando a esmo diante das portas de si mesmos. Falatórios e diversão, jogos do sentido e da ilusão, caminhos e descaminhos do mundo e da alma: labirinto. Mas às vezes alguns se fartam. Há dias em que não suportamos mais o falatório. Paramos. Enfim, o silêncio. Enfim, a solidão.

E cada qual deve procurar novas razões de viver e de esperar. É imperativo suportar o presente e preparar as decepções por vir... Assim, a tristeza gera tristeza, e os consolos de hoje preparam as decepções de amanhã. Cada nova esperança só existe para tornar suportável a não-realização das esperanças precedentes, e essa fuga perpétua em direção ao futuro é a única coisa que nos consola do presente."

Essas palavras são obra de Sponville, filósofo francês incrivelmente conectado com esse nosso tempo. Recomendado.

Minha vó disse: tristes somos nós, na minha idade. Não vivemos do presente nem acreditamos no futuro; nossa existência são recordações.

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