Thursday, June 28, 2007

Tem sempre a última noite de sono, e eu falei. Apesar das coisas, quando tudo reclama preço caro. Prefiro diferente: quando, nervoso, paro e penso. E escrevo. Mas são muitas coisas, não posso perder o tempo da palavra, que entra, sem caber, atrevida, direta sobre o fundo do que, no fundo, não sabe dizer. A saudade vem sempre em mim. A ausência do que está por ser, adiado para sempre, sem nunca ser. Um gesto feito, três palavras ditas: de qual você gosta mais? A vida minúscula, o roubo da atenção, não vá passar a vida toda nessa agonia. O vaso quebrou, dói menos que uma vida arrebentada. Têm coisas. Não sei chegar sem calcular o caminho da volta, perigoso, com luz ou sem, o ônibus demora para passar?

Sabes, tiempo ya que me pregunto cosas un poco raras. Yo mismo, al medio, con mis dudas e incertidumbres. El tema es: qué es lo que cambia, lo que permanece? Ya, cómo te lo explico... Todas mis lecturas de Lukács, imagínate, amenazadas por un trozo de magia, lo desconocido que habita el mundo. Véase el ejemplo del lugar. Fuera en una plaza en Madrid, o bien aquí, en San Martín, ya te lo has fijado? Siento como si hubiera sido el mismo en sábanas rojas o lila. Y qué? Claro, todo el materialismo, todo lo que siempre me había explicado a mí mismo, entiendes? No, por favor, con eso no digo que lo he tirado todo fuera, para nada. Lo que pasa es que, ahora, tengo claro que viven en mí cosas distintas, incluso contrarias. Si hay una esencia, habrá determinación? Soy hijo de mi madre o de una madre? Repito: hubiera sido distinto si las manos fueran otras. Por supuesto que sí... Pero, inténtalo, qué es eso que, no importa qué mierda se me ocurra, sigue adentro, como si inmune a la historia. Me siento, me pongo un tema de Juan Stewart y lo siento como si nacido en Tallinn, bajo algún canto de Mr. Pärt. No hablo el alemán, pero hay veces que vivo como si lo hubiese tenido desde el comienzo. Eso, la esencia, substancia dijo Aristóteles, no? Eso qué es? El alma? Te lo crees? A ver, qué nos hacen los años, los putos años? Yo, amigo de Marx, Althusser, Brecht, Arcand, Gramsci, Sábato, Adorno, Godard, Cocteau, Gorki, yo, ahora consagrado - y cambiado - nomás que por las pequeñas y eternas experiencias de mi propia vida.

Saturday, June 09, 2007


"Todo mundo tinha desejado um governo socialista, prossegui, mas agora estavam vendo que justo esse governo socialista havia malbaratado tudo, e eu, de propósito, pronunciara a palavra malbaratado com mais clareza do que todas as demais, nem sequer me envergonhando de tê-la empregado e repetindo-a ainda diversas vezes em relação à falência do Estado sob nosso governo socialista, disse também que o primeiro-ministro era um homem ordinário, astuto, espertalhão, que tinha usado e abusado do socialismo como um veículo para seu perverso apetite de poder, como, aliás, o governo todo, disse, todas essas pessoas são ávidas de poder, vis, sem escrúpulos, o Estado que elas próprias compõem é tudo para elas, disse, e o povo que governam não significa coisa nenhuma. Faço parte desse povo, que amo, mas não quero ter relação alguma com esse Estado, disse. Nunca em sua história nosso país tinha estado tão mal, eu lhe disse, nunca em sua história tinha sido governado por gente mais vil e, portanto, mais estúpida e sem caráter. Mas o povo é burro, disse, e demasiado fraco para modificar uma situação dessas, cai sempre na conversa justamente desses espertalhões ávidos de poder, como os que estão no governo agora. E mesmo nas próximas eleições, é provável que nada venha a se modificar nesse quadro lamentável, disse, porque os austríacos são pessoas apegadas a seus hábitos e se habituam até mesmo à lama na qual chafurdam já faz mais de uma década. Pobre povo, disse. E os austríacos, mais do que ninguém, continuam caindo no conto da palavra socialismo, disse, embora todos saibam que a palavra socialismo perdeu seu valor. Os socialistas já não são mais socialistas, disse, os socialistas de hoje são os novos exploradores, é tudo uma mentira só!" (O náufrago, Thomas Bernhard, 1983, p.101)

Tuesday, June 05, 2007

- Desculpe a confusão. Ando anacoluto. Sei, digo que não sou desse tempo, reconhecendo tudo em mim como produto desse mesmo tempo. Entendo, ficou difícil falar assim, comigo. Mas alguma coisa corre fora, sem controle. Tento ser honesto, e a desordem mente. Não, não. Erro, sim, querendo dizer a verdade; existe só por mim. Desculpa, eu, outra vez, hipérbato, sem termos, ao avesso. Porque algumas coisas, idéias, propostas e especulações são o princípio. O texto que moldam, o significado que encarnam, são outra história já. A distância que me separa da minha própria intenção; as ferramentas que me deram, o jeito de acontecer no mundo, sendo para os outros, não me serviu. Não sei me expressar sem falsificar o que vem dentro de mim. Sou uma falcatrua acidental. Minhas amostras são sinédoque, não. A falta de habilidade com as palavras, a falta de conforto com os outros, o olhar excessivamente investigativo... Quantas vezes, quantas? Falei contigo sem prestar atenção, medindo cada cílio teu, suas aflições. Ninguém fala comigo sem ceder um pouco. Por isso, quando digo, garanto proteção. Escondo, pois só eu sei o tanto que adivinho nos olhos de alguém.

Monday, June 04, 2007

"Levanta. Tento uma segunda vez. A dor maior: tudo em vão, o sonho esgota-se. Finito, sem tempo para a terceira vez. "Avulso", definiram tão bem. Solto de tudo, Víctor, no meio de tanta coisa. O corpo vai adiante; quando a gente dança, a gente dança. Meus símbolos constroem minha ficção."
Vítor. Um minuto. Seu nome não tinha "c". Chamando, poderia ser. Lido, de jeito nenhum. Meus símbolos constroem minha ficção.
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