Às vezes, a nuvem vem grande e escura. Sento sempre no mesmo banco do parque - pouco adianta, a vida nunca será a mesma; inventaram o dia seguinte. Dali, o lago muda de cheiro. Engraçada é a sensação de "nunca mais" que experimento toda vez. As árvores balançando, o céu dançando distante, dezenas de carros mudos lá para longe. Sento bem no meio, "tão estranho por querer estar sozinho". As paisagens que cruzam meu caminho pedem melodia. "Floriano, Floriano", pequeno Fox Terrier, sujo de lama. "Será que você me deixa gerenciar meu próprio tempo?", o noivo, fugindo da noiva. Pendular, tanta felicidade, seguida de tanta melancolia; a saudade, de coisas diferentes, permanece com gosto muito parecido. De vez em quando, o vento borrifa água nos olhos, ardem, é irritação, ou tristeza; o tempo não pede licença para ultrapassar o tempo da gente. Agora, mais rápido e menos paciente. "Vou fazer arte", imagino, outra vez. Com tanta fantasia, digo, inúmeros símbolos, mentiras infinitas, promessas, pequenas e grandes plenitudes, não, não vou poder, pois não consigo, ser, insensivelmente, conforme e comum. Tive urso de pelúcia, cicatriz, amigos sinceros, decepções sinceras também; professora enfartada, garota erotizada, carrinho motorizado, periquito macho, periquito fêmea, peixe de três anos, Snoopy no pijama, Abelardo Castillo, zoológico, hambúrguer e hot dog, com sorvete de creme e calda quente. Não, não tive, porque jamais teria; digo, não foi, tendo sido, e sido tão bom e bem, para, com tão pouco anos, negociar essa magia pelo azulejo novo do piso do banheiro.
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