Tuesday, July 03, 2007

- Esqueci como se escreve, só isso.
- Esquisito, não?
- Mas é só uma palavra...
- Meu nome.

Que coisa pode ser um intervalo. As cores mudam; cada dia novo traz um sol mais fraco. A gente, meu Deus. Um olho mais míope. Uma música riscada. O duro de lembrar é constatar que mesmo os fantasmas vivem pouco entre nós. De volta à vontade de estar sozinho, qual tempos antes, diferente de tudo que seria depois. Seria? Sido, então. As conversas de antigamente. As pessoas tão presentes, ainda mais presentes - por ausentes. Na fila do supermercado, o preço do protetor labial. Um cachorro grande debaixo de uma escrivaninha apertada - "orelhinhas de humilde, era", sendo mais, agora, nesse tempo da falta e da saudade. "Quero isso", Daniela, "morrer encantado com poucas e boas pessoas". Os passos que experimentara longe dali, as descobertas - suas -, a revelação de uma glória inominável. Os livros que me confundiram, que acalmaram. Sem conversa, depois de tudo isso. O diálogo com a própria voz, às vezes tão estranha e desconhecida. Sempre a voz que, apesar de tudo, sempre conforta. No sonho de ontem à noite, caramba, comi a Carol, de quatro; eu, visto de fora, num sexo de perpectiva inédita para os olhos que, fechados e dormidos, são meus.
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