(Boa vizinhança, Mr. Gialuca)
Não entendia, o que fazer? Depois, enquanto falava, toda a atenção no tique dele, no lado direito do lábio, fisgado. Falava alto de arte, de Sábato, do palco, você é de teatro, não? Não, não, disse. Digo, formalmente, não. Sou do teatro, na poltrona, serve? Enfim, enquanto o entusiasmo crescia, e ele contava da vida em Buenos Aites, do detalhe do banheiro do Borges; bem, enquanto se perdia na "conexão dos signos, porque pode ficar interessante", ensimesmadado, ficava sem entender que eu, nesse quintal particular, via e lia Sábato, Bryce Echenique, Ramón Ribeyro, Beckett ou Carrascoza, apenas para erguer minha própria ficção. Não, señor, não, não; quis dizer, calado. Aberto a boca e teria acentuado: que é isso, não é para ser, vê? Tão difícil entender que minha intenção não foi, sendo menos e menos, ouvir Marie Widor para deixar de escutar Balún, que um filme de Arcand não anula um clipe do Pulp, e que a melhor gravura do Nolde jamais tirou meu encanto com as tiras do REP. Ah, agora, mais confortável, seria tão fácil dizer: acorda, rapaz, tudo que me toca, porque se toca em mim, tem proximidade. Não, não seja idiota, já não preciso de tomo algum para saber que Pärt e Felipe Moreno são muito importantes na minha ficção. Não, entendo sua preocupação, quem vai ver, o acadêmico, o grande diretor de montagem nenhuma; sei, sim, claro, mas o mundo é arbitrário, sua teoria muda de gênero em qualquer outro lugar. Ah, Ledo, não se leve tão a sério; a gente junta livro, disco e mil teorias, por esperança, sempre - nunca por convicção.
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