O vento. Não, não, Víctor, o tempo.
Quando estive no mesmo campo, em lembrança ou imaginação, a sensação, muito semelhante. Cortar o ar, peito aberto, é para quem espera muito do mundo. Desesperançado, esteja! Meu leme pede os olhos fechados. A grama, no pé, mais alta. Molhada, a umidade me lembra tudo o que é verde. A rampa cheia de limo, em Ilhabela. O gol de 96, o empate com a melhor classe do colégio. A cor da água, o banho de caixa d'água, quando eu tocava o corpo dela - o verde da primeira excitação. Verde, porque não está maduro. Extasiado, sem gozo, não mais que oito anos, em oito minutos. Cuspo a manga, fiapo demais, crescida de menos. "De más" - te lo comenté, Víctor. "Dos o tres centímetros de más". O sofá, verde, sem caber ao lado da televisão. O risco, no tornozelo. Aqui, nesse mato sem cachorro, ainda piso um bicho para gritar. Socorro. O cheiro do verde. O calor, confirmação, porque stou vivendo. Enquanto lembro, chega a dor, saudade dos dias e amigos que fiz no alto da montanha, num país de bandas de rock'n'roll. Víctor, Víctor, escuto, estão chamando. Não, não olhe agora, meu irmão. Correu muito já - tão longo o caminho, tão distantes as marcas e sinalizações, que talvez a sede e a fome sejam grandes, e não haja maneira fácil de voltar.
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