Bueno, y a veces, o muchas veces, nos preguntamos qué significado habrá de tener la vida. Una opinión: a vida é isso, poucos personagens que marcam e muitas histórias que desaparecem. Me sinto um pouco no meio dessa luta, tentando ser alguma coisa que fique, alguma história digna das melhores lembranças. Agora mesmo, por exemplo, me vejo pensando numa garota chamada Simone. Mas quem é? Quem seria. Foi numa ladeira de Ouro Perto, numa overdose de música eletrônica, em meio a tanto samba e tanto axé, que ela disse, assim, susssurrando no meu ouvido: você me excita. E levava um decote arriscado, cheio de linhas proibidas; alguma coisa que insinua, sem entregar. Reparando de longe, até chegar bem perto, pertinho, e, com jeito de pouco carnaval, saltar em sua direção, apenas com alguma expressão, vi as coisas acontecerem. Vi que me esperava, que buscava alguma coisa não tão óbvia para um carnaval, muito mais clara para um sexo underground. Simone, alguns meses depois, estou eu, aqui, lembrando você. Sem saber nem mais nem menos do que aquele suor agitado, testemunho de uma noite de março de 2005. Sei, sei. Ninguém saberia. O tempo balança num ritmo estonteante e, nas curvas mais fechadas, derruba as casquinhas que incomodam. Espero que você não saiba de mim, porque é sem saber de você que fico a imaginar o tanto que poderia ter sido, sabendo. Um beijo, Simone. Os tempos, os lugares se perdem, e a gente se substitui. Porque, já disse, são poucos os personagens que ficam e muitos os enredos que apagam sobre a folha envelhecida.
Monday, July 31, 2006
Friday, July 28, 2006
- Não, não, tenho a impressão de que você não me entendeu bem. As dimensões do tempo, a existência de noções aparentemente diferentes, que chamamos de passado, futuro e presente, não supõem nenhuma separação. Isso, que a conjugação separa no verbo, é contínuo e eterno. Todo "é" foi algum dia, o que não necessariamente quer dizer que tenha deixado de ser. E o futuro está sendo já. Sei, parece complicado, mas o tempo é um, sendo vários. Quando alguém diz "a essência não muda", não sabe, mas apenas pretende convocar esse trânsito confuso e não formal da unidade tempo. "Há" é - ou foi - "haverá" porque houve já.
Thursday, July 27, 2006
Começou devagarinho, jeito que doía mais. Sabendo que era para esquecer, que fosse tudo de uma vez, porque, aos poucos, assim, dava tempo de machucar. Jamais me lembraria das coisas. Esquecer era para ser agora e para sempre, porque, feito conta-gotas, desesperava, tirava de mim aquilo que eu era e estava sendo. Ainda. Doutor, por Deus, doutor, há cura? Não sei, meu filho. Poucas vezes vi caso como o teu. Assim, intenso, mas lento; inteiro, mas em partes. Não, não, acho que não tem cura, não. Esquecer ajuda a sobreviver, concluiu. Mas, não, não poderia ser. Minhas lembranças, nada mais, justificavam a permanência. Era porque eu tinha vivido, e as coisas lutavam para seguir vivas em mim, que haveria de continuar. Abri a porta. Disse "até nunca mais, vou perder o endereço". Então, tal qual o mestre que blefa no pôquer mais calhorda, desvendou o truque para o jogo bom: "Não te preocupes. Tua enfermidade é tal que, dentro de alguns anos, tampouco lembrarás que havia o que esquecer."
Tuesday, July 18, 2006
Era lógico que poderia mudar, que poderíamos mudar. Que havia tempo e espaço para ser diferente. Ou não ser, sob a ótica dos outros. Acreditar no movimento em falso, no traço novo, no rabisco arriscado, na nota fora do lugar, nos pigmentos sem coesão. Era lógico. No escuro da solidão, no quarto dos sozinhos, longe e perto uns dos outros, como estranhos e desencontrados, era acreditando que se dava o anúncio do tempo por chegar. Quando olhou para o teto, percorrendo o retrato de Maria Luísa, pintado por Ado, amigo seu, pensou na bossa reinventada de uma garota chamada Helô: "É quando, quando me destesto e inauguro um novo gesto pra dizer que foi, Helô". O futuro era o presente dos sozinhos, que vivem fora de tempo, em canto apagado. Mas a vida seguia, em passos largos, muy pocas veces cortos. O compasso da música que aplaudem amanhã emperra no ouvido manso de quem hoje abençoa as linhas escritas no tempo da saudade. E, assim, a existência, às vezes pacata, se dividia em três movimentos: o ido, o sendo e o em ser.
Monday, July 17, 2006
Cada libro es una imagen de soledad. Es un objeto tangible que uno puede levantar, apoyar, abrir y cerrar, y sus palabras representan muchos meses, cuando no muchos años de la soledad de un hombre, de modo que con cada libro que uno lee puede decirse a sí mismo que está enfrentándose a una partícula de esa soledad. Un hombre se sienta solo en una habitación y escribe. El libro puede hablar de soledad o compañía, pero siempre es necesariamente un producto de la soledad.
(La invención de la soledad)
POCAS SOLEDADES COMO LA DEL ASCENSOR Y SU ESPEJO
(pensaba Bruno), ese silencioso, pero implacable confesor, ese fugaz confesionario del mundo desacralizado, el mundo del Plástico y la Computadora. Lo imaginaba a S. observando su cara con despiedad. Sobre ella - lenta pero inexorablemente - habían ido dejando su huella los sentimientos y las pasiones, los afectos y los rencores, la fe, la ilusión y los desencantos, las muertes que había vivido o presentido, los otoños que lo entristecieron o desalentaron, los amores que lo habían hechizado, los fantasmas que en sus sueños o en sus ficciones lo visitaron o acosaron. En esos ojos que lloraron por dolor, en esos ojos que cerraron por el sueño pero también por el pudor o la astucia, en esos labios que se apretaban por empecinamiento pero también por crueldad, en esas cejas que se contraían por inquietud o extrañeza o que se levantaban en la interrogación y la duda, en esas venas que se hinchaban por rabia o sensualidad, se había ido delineando la móvil geografía que el alma termina por construir sobre la sutil y maleable carne del rostro. Revelándose así, según la fatalidad que le es propia (porque sólo puede existir encarnada) a través de esa materia que a la vez es su prisión y su única posibilidad de existencia. (Abbadón, el exterminador)