- Sei. Um dia, zanzando, encontra um blog. Tá. Aí, lê o penúltimo post, música que faz chorar. Alguma coisa assim, certo? Manda e-mail; o autor devolve a mensagem, com um "temita". Você acende um cigarro, separa uma dose de licor e umas bolachas cobertas de chocolate. (Não fica doce demais, não?) Põe play num programa que, se não me engano, você chama de "Tunes"? (É isso?) E, curiosamente, em conformidade com a previsão de um parágrafo raso, chora. Isso, claro, você contando agora, tamanha coincidência. Sei, entendo. Quer dizer, tento entender, não vi caso semelhante. E chora porque conhece a música, é isso? Certeza de que já chorou antes. Perfeito, sem que haja precipitação, palpite simplesmente, vejo a possibilidade de um caso de regressão espontânea, a supressão quântica do tempo social, a vigília do espírito perturbado, o escape carnal, entende? Claro, claro, hipóteses ainda. Não, não, gozado. Você, a música, o blog. Sei, Leandro, personagem do sexto capítulo do seu segundo livro, criança, coral da igreja, cantando alguma coisa, assim, muito parecida, a melodia, sei, sei, para não dizer igual. Claro, consigo imaginar o espanto, sem conseguir imaginar o que se ouve de um conto escrito, senão a imaginação. Veja bem, não duvido, que é isso... Perdão. Tantos os casos, o acaso e o mundo que a gente desconhece. É que, sinceramente, primeira vez que, sabe, isso, como, uma melodia, roubada da ficção. Não, não, não se preocupe, é só impressão com a novidade do caso, o incrível da vida e do mundo por ser, que é esse mundo sendo ao redor. Desculpe a intimidade, não entenda como intromissão; às vezes é, eu sei, curiosidade talvez, mas, se não se importar, somente com o intuito de esclarecer, prever e medicar o caso, posso, se quiser, evidente, posso, claro, dentro do limite da relação profissional que nos aproxima (e afasta - pensou), por acaso, receber e ouvir, claro, não aqui, mas receber e estudar esse "Acto de constricción"?
- Pode, sim, doutor. Com gosto. Mas quem falou no título da música?
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