Vocês? Não sei. Quer dizer, tenho um monte de idéias a respeito, sabe, a coisa toda muda quando pedem: "fala". E acabo não falando, sem graça. É que a gente não tem certeza de nada. E mesmo o Prêmio Nobel de alguma coisa cheira sempre a opinião. Caramba, escutassem agora, matavam, "barbaridade". Eu, entende, esse papo do Bruno, a vida como plano a curto prazo, essa vontade de correr o mundo, colecionando pessoas diferentes, inflando cada dia com mais significado, até a infinidade de tudo massacrar essa cabecinha que dorme sozinha nas noites de maio. E do ano inteiro. Sei: tem o hábito, a convivência, tudo que se fez, feito lá atrás; o medo de arriscar o que foi bom pela incerteza das coisas que podem ser... Mas, sendo uma, a vida, o risco há de valer a pena, não? Sei lá. As historinhas que a gente leu no tempo de criança, que a gente leu e esqueceu, tanta coisa não precisa ser de novo, nem continuar a ser. Permanecem boas, ainda assim. Ainda. O friozinho que corre a gente, sintoma de saudade... Não voltar mais não me diz "tem de ser de novo". "Foi bom", se disser, eu, pra lá de satisfeito. E saudoso, o que é que tem? Tenho dançado cada vez mais no quarto vazio, delírio cada vez maior, os episódios que imagino, e enceno, escondido da realidade que entedia os outros. Tem que ser assim, rapaz. Só sendo. Senão, fica duro demais, sem sentido, porque o sentido da vida que é nunca vai ser, a gente não sabe que sentido tem o aperto no peito que coincide com o cheiro de Big Mac da JK, antes do incêndio, 88. Não, não, não foi só quando li Erefuê, ou Esperando Godot. Juntei poesia quando voei do carrossel do clube, 6 anos. Entende agora? Não preciso ler de novo, nem ver Adeus, Lênin pela oitava vez; sei que foi bom, e vai ser sempre: não preciso repetir a seqüência de sensações que molhou o olho na estréia. Ela ficou em mim. Sala de cinema, pouca gente, Yann Tiersen. Comprei a trilha, em vinil. E não preciso comprar de novo para entender o que eu senti, aquela bolacha enorme, o papel de parede tão russo, numa prateleira da Fnac, em Paris. Sei, sei, dou volta sempre, exemplos mil, mas explica, acho, que o valor das coisas não está na repetição. O primeiro choro, a primeira risada, ou mesmo a primeira frustração, só ganham sentido e força numa história de choros, risadas e frustrações completamente diferentes. Nosso combate é somar todos os dias. Com uma colher de arroz mal temperado, ou com o beijo de uma atriz mexicana.
<< Home