Sua maior crítica, difícil definir. A vida da gente tem decepção, porque o dia-a-dia há de despistar a dor maior, sempre de muito pouco sentido. O que eu vou ser quando crescer? O sonho de ser diferente: a certeza de que serei eu. Duro criticar. Deixar de ser, amarrar o cadarço a cada esquina suja, não tornarei a falar de boca cheia. O batalhão que eu conheci: fiquei sozinho. Anos atrás, a impressão: "acho que será possível". Então, quando trocou duas palavras com Graziela, e soube de Leandro, quando mexeu nos registros pessoais, saiu convencido de que a dificuldade das coisas vem mesmo com o tempo. Que pena, lamentou. Afinal, não era sonho tão grande, era projeto sincero: ser a si mesmo, nada mais. Mas tinha o caminho, havia estudo, aprendizado, troféus e a covardia. Títulos de mestre, o dote do casamento, o salário mensal e a mesada dos filhos, "não seja radical". Radical, na palavra, o que a palavra é. Foi isso que me pediram toda a vida: "não seja radical". E daí: Paula casou, divorciada. Júlio ficou rico e ateu. E eu cresci, alienado, sedento dos símbolos que o mundo custou a dar.
Monday, April 30, 2007
Thursday, April 26, 2007
Y después de años. Bueno, después de años, claro, cuando ya todo se haya vuelto diferente, cuando le cueste un montón recordar los nombres de los colores que componen la escala del verde, pensará dos veces antes de mirar hacia adelante. Demasiado grande la falta que tiene en el pecho, los ruidos que escucha por la noche, los sonidos llegados de un tiempo pasado... Echa de menos, eso es. De menos. La gente, los lugares, la música, las guapas, las salvajes, los salvajes también. El camino, Machado. Sin vuelta. Un cielo de nubes. La ausencia de la segunda vez. Madre mía, el sentido, si hay, dónde lo debo buscar? Ehhhh... Supiera antes y... Bueno, lo haría igual, no exactamente, tal vez mejor, si pudiera, claro. "Es de nube, Martín. Nube, chaval". Ya lo sé, señor. El camino, aunque parezca una vuelta, será siempre adelante. Y regresivo. Poco importa, amigo mío. Será nuevo, séra distante... Estará cerca, apagado. No importa. Cuando llegue el momento, lo tendré en mis manos como nunca he podido tener a nadie. Cuando venga el aire fresco, cuando duela mi espina, bueno, eso todo será sólo una despedida. Como todo en ese mundo. Como todos ante el último día.
Friday, April 20, 2007
Tuesday, April 17, 2007
Talvez: a aflição nem sempre é clara. A lembrança, às vezes, é de lugar nenhum. É pura e simplesmente saudade. E pode ser assim? Claro, Clarissa, acho até que poucas vezes é diferente. Nenhuma saudade pode ser maior do que a falta sem sentido. Caminhando em direção ao pequeno quarto de hotel, o quarto onde ficaria por mais cinco dias, de fachada rosa e colcha de oncinha, especulava, de maneira estranha, onde estaria no ano seguinte. E vou estar? Os prédios todos baixos, com tons apagados. As ruas envelhecidas - os Impérios têm pegadas diferentes, todos faliram com a melhor intenção. O povo também cheio de rugas. Num país onde não há filhos, tampouco há de existir pais. Um país, assim, sem o acento, nem mais nem menos feliz. O maior desafio da vida, como nunca, é querer ser grande, sendo pequeno. Alguns remédios não curam cicatriz. A conquista da vida, a cada dia, é render o mundo sem qualquer moeda de um real. Vou ser feliz? Império com final feliz? Um ano depois, ano de Páscoa sem ovos pintados, numa cidade preta e branca, a busca sendo de novo, sem jamais ter sido ausente; algum lugar, entre a terra e o céu, será para mim, que seja assim, between the click of the light and the star of the dream.
Tuesday, April 10, 2007
O brinquedo estava guardado no andar mais alto. Era assim que via aquela prateleira: um prédio de muitos andares. E, cada vez que experimentava um degrau maior, o perigo chegava mais perto. Cheio de risco. O trem corre diferente, se chega de cima, voando. Se vem rápido e colorido, dobrando, feito centopéia. No sonho, na cama, quando havia pouco problema, apesar do medo sempre grande, era assim que acontecia. Visto dali de baixo, do chão, contrapicado, o vagão ficava enorme. Não faltava espaço para tudo que, querendo, haveria de estar lá dentro, estando. No meio do caminho, peças soltas de um quebra-cabeça, baralho, senhas e jogo da memória. Para não lembrar do "da vida", tão modesto, testado sem truques nos anos seguintes. A boneca com capuz e babador perfumava o caminho: o cheiro de borracha dá sede até em gente grande - não dá, Estela? Subir alto, quanto mais alto, é novidade. Hoje fui mais longe. Nada de amarelinha: o céu estava mesmo lá para cima. Pôs o primeiro pé, o direito. Encaixou os braços, apoiados nas barras verticais. Empurrou os Comandos em Ação, desarmados por alguns instantes. Foi para o segundo, mais alto, elevado, uma pequena pilha de livros deitados. Escorregou um pouco - tempo de acelerar a contorção seguinte. Correu e encontrou segurança nova. De frente com um conjunto de dados coloridos, somando nove. Respirou em reflexão, espreitou os andares de cima, chegando. Antes de continuar, mediu o chão. Subindo, a terra ficava maior que o céu. Retomou o movimento, ascendente. Levantou o joelho, esbarrando por baixo, na prateleira para cima. Tocou o trem com o indicador esquerdo. Tentou puxar, escapando para trás. Roçou a locomotiva novamente; a estante cedeu. Arriscou uma última vez: o trem que sai de cima bate asas. O ruído do que chegou lá para baixo não disfarçou a viagem. O trem sem gasolina não correspondeu. Na mão, não arrancou para cima. O tempo foi diminuindo, o tumulto atropelando. Deitou no chão, estava machucado, grande desilusão. Ainda sou pequeno, pensou. Quando o sonho crescer, não cai, não.
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- Assim, não, Rafael, tá doendo. Aaai, aaff, ãaaa, ãaaa... não.
Era melhor quando não precisava olhar. Acariciava o mamilo, enquanto repetia o movimento aprendido na televisão. Tocava todo o corpo; Paula queria, e queria sempre mais, estando com dor. Dores assim, pensava, sem o tranco do chão. Insistia com força, por mais que os sonhos sangrassem. "Vai, direto.. Vai". Olhava o próprio corpo, cansado, dobrava o olho: tudo morre um pouco quando o tombo é efeito da tentaçao. Mordendo a ponta da orelha, rasgando por baixo, o volume grande moldado na palma da mão. A pele roçada, os cabelos suados. A busca era infinita, perdida, o caminho destrilhado de um trem voador.
Monday, April 09, 2007
Depois da noite de festa, com baldeação de 3 minutos, seguida do ônibus noturno; sabida notícia desconfortável, a vida era mesmo incerta. Os dias mais curtos, suficientes para muita história, entre risadas novas e decepções. Existir sob a ditadura das sensações, irreproduzíveis. Na rua escura, o ruído de anos atrás. Agora, meio vazia, era saudade. Tanto antes, sem a certeza de que haveria ainda muito depois. Saudade. As feições reveladas acidentalmente. O medo foi porque, no fundo, sobrava alguma coisa por dizer. A rua de novo, sem as mesmas companhias. A mesma solidão, abrigo do sonho a caminho da destituição. Estivera ali: algumas paisagens permanecem em mim. Atravessou a rua: sobrados geminados, receios experimentados, a música, o álcool, a alucinação, amizades incendiadas, o sexo e a conquista do mundo. Tudo por vir, passado e visto já. A rebeldia é em nome da novidade; a ansiedade diminui o tempo da dor. Na calçada, cantaram alto, erraram o português, esquecendo-se de que nem tudo fica mais bonito no inglês. Viu Caio e Lígia, sempre juntos, no táxi. Viu Fernanda e Rodrigo, longe dali, convictos da beleza do que não existe. Viu o medo de esperar, sozinho, a volta para casa. O mundo não se repetiria, era esse seu maior valor. Ser, sendo uma vez. Ter sido, para nunca mais. O joão-bobo, inflado numa avenida da cidade. Ou a contagem regressiva para 2006. Não vou esquecer. A maravilha de cada gesto inédito chama uma esperança por vez. Tranqüilo, agora. O mundo cheio de paz; a fragilidade do que passa por mim pedindo para não deixar de ser. "Um pouco de paciência, rapaz; só um pouco de paciência".