Sua maior crítica, difícil definir. A vida da gente tem decepção, porque o dia-a-dia há de despistar a dor maior, sempre de muito pouco sentido. O que eu vou ser quando crescer? O sonho de ser diferente: a certeza de que serei eu. Duro criticar. Deixar de ser, amarrar o cadarço a cada esquina suja, não tornarei a falar de boca cheia. O batalhão que eu conheci: fiquei sozinho. Anos atrás, a impressão: "acho que será possível". Então, quando trocou duas palavras com Graziela, e soube de Leandro, quando mexeu nos registros pessoais, saiu convencido de que a dificuldade das coisas vem mesmo com o tempo. Que pena, lamentou. Afinal, não era sonho tão grande, era projeto sincero: ser a si mesmo, nada mais. Mas tinha o caminho, havia estudo, aprendizado, troféus e a covardia. Títulos de mestre, o dote do casamento, o salário mensal e a mesada dos filhos, "não seja radical". Radical, na palavra, o que a palavra é. Foi isso que me pediram toda a vida: "não seja radical". E daí: Paula casou, divorciada. Júlio ficou rico e ateu. E eu cresci, alienado, sedento dos símbolos que o mundo custou a dar.
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