Monday, March 27, 2006

Que medo é esse que o tempo traz?

Sunday, March 26, 2006

Thursday, March 23, 2006

FEIOS, SUJOS E MALVADOS

Existem relatos que dizem ter Francisco Pizarro liderado o assassinato de 6 a 8 mil incas, em menos de 2 horas, no fatídico ano de 1532. Nesse episódio, Atahualpa, líder inca, teria sido enganado e obrigado, por um padreco, desses tão católicos, a converter-se ao cristianismo, assim mesmo, com letra minúscula (que não vale o trabalho de um shift). Aí estava, então, mais uma mostra do repúdio europeu à diferença. Aí estavam sua soberba, seu evolucionismo barato e a dívida que nunca chegariam a pagar aos americanos, latinizados tão somente pela ponta da espada.

16/3/06
Um marroquino tenta passar a catraca da estação de trem com um armário tirado do lixo. O ano é 2006, a cidade é Barcelona. Desse vez, não há Pizarro. Há, sim, um guardinha de terceira idade, herdeiro direto do sangue do, muito bem dito, explorador. E direto porque, nesses cinco séculos, o europeu continental fez bem a lição de casa e não se deixou contaminar pelo sangue bárbaro. Pois bem: "aonde pensa que vai?" "Com isso daí, você não passa." E, de lado, "Esses africanos...".
CRISE DE ADMIRAÇÃO
Acho que é isso. Nosso tempo, o tempo nosso, esses nossos dias em que cuidamos da própria extinção, tem andado carente de referências, de modelos que encantam. Esse perambular tão anônimo, esses olhares tão dispersos, esses ouvidos tumultuados, tudo isso parece querer dizer que falta alguém, que falta alguma coisa. E, quando decidimos, então, chegar à tal avaliação da vida que levamos, talvez míopes por tão próximos, dentro dela, temos a sensação de que ainda não há. De que ainda estamos a caminho, de que ainda estão por chegar. Nosso tempo é pobre em admiração - os amigos, pessoas que encantam, não enchem uma mão. E parecem estar, a toda hora, sob tentação, debaixo desse risco de deserção que responde por frustração. Os sonhos de mentirinha, essa pílula fajuta, artifício barato, vão fechando o círculo, e a gente na ponta do raio. Ahhh, ahhhh. Onde estão? Quem são? Um dia, quando o olho estiver fechado, vão ser só lembrança do que foi e lamento do que poderia ter sido. Eu, nesse espaço tão autista que é meu, espero, então, estar louco já... Porque ali, dali, a gripe aviária será justificativa, motivo para acreditar.

Saturday, March 18, 2006

... o lobo do homem.

As mentiras que o cinema conta ;)

Thursday, March 16, 2006


"Seus dias de fartura estão contados."

Pelo menos, foi o que disse Robério de Ogum.

Wednesday, March 08, 2006

"Pero lo que yo soy es latinoamericano"



Extraí essa declaração de uma entrevista que Cortázar concedeu, em 77, ao programa "Grandes personajes a fondo", da TVE. O sujeito é fascinante, simpático. Tem um castelhano cheio da cadência argentina, com um "r" truncado, provável herança da mãe, filha de franceses e alemães. É muito interessante ver essas figuras consagradas, mitificadas em fotos posadas, em movimento - expressões alternadas, tiques, rugas, gestos, tudo vivo. Enfim, depois disso, fiquei ainda mais fã do senhor. E a defesa em questão deveria voltar a circular por aí. A Europa, bela Europa, precisa ser lembrada dos seus barbarismos - que não são poucos e aumentam a cada dia.


"Yo nunca me consideré un exilado, o un exiliado, no sé como se dice."

(Enfatizando que sua mudança para a França foi decisão pessoal, que nada teve a ver com questões políticas. Mais tarde, com o golpe de Estado de 76 e a ditadura de Videla, a coisa mudaria.)

"Bueno, desde hace algún tiempo, sé que soy un exilado. Ahora sé que soy verdaderamente un exilado, en el sentido más patético y más terrible de la palabra. Pero mi caso personal no interesa. Lo que es terrible es asistir todos los días a esa diáspora, a ese exilio. A esa inmensa cantidad de compatriotas míos y, después, de compatriotas latinoamericanos. Tú sabes que yo estoy muy contento de ser argentino, pero lo que yo soy es latinoamericano, cosa que molesta incluso a muchos argentinos, porque las nociones de patriotismo lamentablemente juegan demasiado actualmente. Yo soy un latinoamericano y, entonces, siento esa cosa espantosa de ese exilio cotidiano. Los uruguayos, los chilenos, los argentinos, bolivianos, y tantos más, paraguayos, y brasileños, la lista es larga, tú lo sabes. Todo el cono sul. Esa gente que viene aquí en condiciones espantosas, buscando amigos. Yo sé que en España los exilados latinoamericanos están encontrando amigos. Lo sé. Sé también que hay problemas porque llegan en tales cantidades que no siempre es posible solucionarlo. No sé, mira, yo lo que espero es que, en España, se piense que, cuando, en los años del 36 al 39 - no tengo necesidad de decir más, no? -, la cantidad enorme de españoles que llegó a Argentina. Yo era joven en esta época, y los veíamos llegar. Y ellos mejor que yo podrán decirte como fueron recibidos, aceptados, como se fundieron con nosotros. Como no hubo ningún problema. Me dirás que las situaciones eran distintas, que nosotros somos un país de inmigrantes, que teníamos más facilidad de aceptación. España, o Francia, o Alemania no las tienen, las tienen en menor cantidad; que son países un poco colmados (...) Pero algo me dice, en un plano visceral, que, en todos casos, España no se olvidará que, entre el 36 y el 39, ustedes, los españoles, nuestros hermanos españoles, encontraron una casa en la Argentina."

Friday, March 03, 2006


Shake your rattle-snake skin
And become a part of society
Wait on down the highway
To see how far I'll come a-run a-run run running
All that we had salvaged from the fire
Was a waste of time
(But) what a waste of time


Um dia inventaram o pop. Não se sabe bem quando. Nem onde. Há quem aponte para o topetudo; há quem culpe o swing. E há os mais atrevidos, que falam de Shakespeare (sim, Shakespeare, porque há registros de que seu teatro foi sempre muito popular - é só olhar para o cinema hollywoodiano), ou mesmo de Ésquilo, de Sófocles e de Eurípedes. Enfim. O que interessa é que isso que chamaram de pop ganhou tal força que, já não há dúvida, se tornou a maior expressão do século XX. A todo grande conflito histórico parece corresponder uma celebridade. Lênin é pop. Hitler, Mussolini, Franco. Getúlio. Alexander Dubcek e Sartre. Jânio. Camus, Cortázar, Jorge Amado. O papa é pop, estão lembrados? A lista é longa e tromba, quem diria, no nosso excelentíssimo Luiz Inácio Lula da Silva. Benjamin alertou: em tempos de cópias, não há originalidade possível. O sagrado está perdido. Pervertido. A arte vendeu a aura ao Diabo. Nosso ídolo pop é isso; Lulinha, és farsa, companheiro. És farsa.

Pois bem, entre os que se propõem a jogar o jogo da cópia, do eterno simulacro, há aqueles que se divertem e, talvez por isso, divertem os outros. É o caso do rapazote aí em cima. E de sua trupe. No ano passado, apareceram nas respeitáveis listas de melhores do ano. O nome é quase um período: Clap your hands say yeah. São uns carinhas de Brooklyn, NY, freaks que só o pop sabe vender. O vocalista canta mal, porque grunhe. Mas diverte. E com bonitas melodias.

Há uma semana, estava eu, palpitante, no centro da galerinha pop e cool - porque cool virou atributo do pop - que se divertia em meio ao show do quinteto. O set foi divertidíssimo; a apresentação foi divertidíssima. Porque era mostra pop; e, no pop, não faz falta entender o que se canta, se o que se canta diverte. Então, a platéia latina acompanhava a melodia com um "uhuuu uuu uhuhu". Que graça; o vocalista se divertiu às pampas com a imitação que o público fazia da melodiazinha do teclado. Putz, o pop tem momentos incríveis. E incrível também foi assistir ao guitarrista/tecladista esbaldar-se em suor, e em risadinha, dançando de lá pra cá, com afetação pra lá de pop. Que leveza. O pop é mesmo capaz de divertir. É alegria rapidinha, com validade no limite, suficiente para fazer agüentar. Isso, o pop entretém e disfarça. Que truque, hein???

Por fim, Clap your hands, assim, concentrado, é indicado para uma tensão ou outra aflição. De tão rápido que passa, tão mais rápido que os dias contados, vale uma chance. Comece por "The skin of my yellow country teeth".
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