Thursday, March 23, 2006

CRISE DE ADMIRAÇÃO
Acho que é isso. Nosso tempo, o tempo nosso, esses nossos dias em que cuidamos da própria extinção, tem andado carente de referências, de modelos que encantam. Esse perambular tão anônimo, esses olhares tão dispersos, esses ouvidos tumultuados, tudo isso parece querer dizer que falta alguém, que falta alguma coisa. E, quando decidimos, então, chegar à tal avaliação da vida que levamos, talvez míopes por tão próximos, dentro dela, temos a sensação de que ainda não há. De que ainda estamos a caminho, de que ainda estão por chegar. Nosso tempo é pobre em admiração - os amigos, pessoas que encantam, não enchem uma mão. E parecem estar, a toda hora, sob tentação, debaixo desse risco de deserção que responde por frustração. Os sonhos de mentirinha, essa pílula fajuta, artifício barato, vão fechando o círculo, e a gente na ponta do raio. Ahhh, ahhhh. Onde estão? Quem são? Um dia, quando o olho estiver fechado, vão ser só lembrança do que foi e lamento do que poderia ter sido. Eu, nesse espaço tão autista que é meu, espero, então, estar louco já... Porque ali, dali, a gripe aviária será justificativa, motivo para acreditar.
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