Estava olhando pela janela dos fundos do prédio em que morava. Muita coisa me faz pensar na vista que eu tinha dali. É só eu andar um pouco mais sozinho, quando faz frio, ou quando o calor não vence a brisa gelada de fim de tarde, na sombra. Penso no dia em que encontrei Fernanda e Henrique numa pizzaria delivery. Parecia que tudo, tudo, em todos os seus detalhes, continuaria acontecendo igual, mesmo que longe de mim. Pedi um pedaço da vegetariana. E tomei um suco de lata, extremamente doce para o jeito que lembraria dessa noite, hoje, tantos anos depois. Se pedissem para eu palpitar, diria que Fernanda e Henrique não terminariam juntos, no que eu estava certo. Mas não diria que Fernanda estaria morando em Paris. Não diria que a configuração daquela noite, para as coisas que giravam em torno de mim, nos lugares e entre as pessoas que eu frequentei, era só por mais algum tempo. Só. É engraçado como a gente se dopa com pizzas deliveries para olhar adiante e conseguir reunir ânimo para o passo seguinte.
Daquela janela, via os vizinhos e os filhos dos vizinhos brincando no pátio, enquanto escrevia um post ou mandava e-mail para alguém. Ouvia um monte de conversas enquanto escutava música e procurava nomes diferentes para coisas que eu já conhecia. Com outro nome. Dali, sentia o tempo passar, a hora mudar, o futuro acontecer cada vez mais rápido e sem explicação.
Tentei algumas vezes olhar das janelas que vieram depois, na esperança de reviver a mesma esperança. Experimentei na casa da última namorada, do último tio e do último amigo. Vi diversas coisas, várias delas parecidas, mas nada, em nenhum momento, tão bonito e imbatível como todas aquelas sensações que mexeram com o meu coração.