A essa hora da noite, posso apostar que a Fabiana está com o dedo no nariz. Posso apostar que está com dedo em outros lugares também.
São meia noite e dezesseis. Tenho certeza de que a Carmen está lendo um livro do Skármeta.
Está fazendo frio de madrugada. Enquanto o Pajé está dormindo, no quintal, Marco e Patrícia estão deitados, de costas um para o outro, na cama de casal.
Vou ficar acordado até tarde. Tem um canal com filme triste a uma da manhã.
Se a Alice estiver acordada agora, é porque está no banheiro.
Rodriguinho não sai da sala de bate-papo. Ou do pôquer. Quando suspeita de mulher jogando, muda de janela. Rodriguinho bate punheta quando forma um straight flush. E coça o saco quando acha que vai marcar um encontro pela internet.
Célia está lendo sobre Gramsci na Wikipédia. Ainda está lendo sobre Gramsci. O relógio está parado e o celular ficou no quarto.
Thursday, August 25, 2011
Saturday, August 13, 2011
Eu tinha esquecido o endereço.
Sempre tive o hábito de ler o nome da rua e o número, uma, duas vezes, antes de tomar o táxi, o ônibus, ou ir caminhando. Mas eu andava mais esquecido. Mais distraído, mais velho. Prestava mais atenção no barulho do lápis, roçando o papel, do que no texto. Comia o pêssego sem cortar, para sentir a casca e o dente. Não sei dizer se o que mudou foi acidente, foi intenção. Veio um dia, que se repetiu depois, e eu fiquei mais devagar. Mais suave. Mas mais triste também.
Tirei o número do bolso. 23. Fui 23, 19 e 20 na lista da chamada. 25 e 26 também.
Débora estava me esperando. Estava esperando que chegasse com o caderninho no bolso, com a mão suja da rua, suja de saudade. Disse "oi". Eu só falei "tudo bem".
Débora perguntou algumas coisas bobas: "como você faz para não envelhecer?". "Ainda gosta de música?". "Faz tempo que não visita Buenos Aires?".
Entreguei a caderneta. "Coincidência a gente se reencontrar assim".