Tuesday, March 31, 2009

Meu filho, vem cá, é com você. Rapaz iluminado. Só precisa ouvir, vai ficar bem. Não se preocupe, não vai lembrar, mas me conhece. Permaneça em silêncio. Muito mais em silêncio. E vai saber de quem se aproximar.

Susto e calafrio, no meio da rua.

Monday, March 30, 2009

As palavras mais complicadas da Língua Portuguesa não saem da minha boca. É assim.

Friday, March 27, 2009

Ontem, Juliana chegou do escritório com um pianinho de sons de pato, cachorro e gato. Sem entender o motivo, perguntei, Ju, amor, pra que esse brinquedo, aí. "Pra você", respondeu. E, com o indicador da mão esquerda, "quá, quá, quá".

Wednesday, March 25, 2009

Sabe, Federico, esse papo de lealdade, franqueza e amizade, isso tudo, meu filho, pra ser bem honesto, não sei se funciona, se dá em algum lugar. Óbvio, vou ter que te escutar reclamando da televisão, que a gente não se fala no jantar, o dia inteiro no trabalho, mas, filho, a vida tem que ser mais prática, garoto; não adianta complicar. Ó, não bebe esse suco de limão, não, que o dentista pediu para evitar acidez, não foi?

Saturday, March 21, 2009

Sé que es posible que no me entiendas.

Friday, March 20, 2009

Passei na frente da sua casa, só isso. Quando passei e vi tudo tão diferente; a pitangueira não tava no canteiro lateral. Aquele detalhe em cima da porta, meio concreto, sumiu. Quando vi que a sua casa não era mais a sua casa, que a gente não se via há coisa de dois anos, senti uma falta insuportável. Senti dó de mim. E confesso que chorei dois ou três minutos, pra dentro, pra ninguém ouvir. Chorei, sim. Pelas coisas que mudaram no dia em que vocês se mudaram. Morri um pouco, vocês nem perceberam. E nem lembraram. Morri um pouco suicídio, um tanto assassinado

Thursday, March 19, 2009

Fábio, querido, vem ver que graça. Você sabe a raça? Parece um novelinho. Será que fica muito grande?

Wednesday, March 18, 2009

A gente se engana, Tânia. A gente realmente se engana. Meu plano de ser encantador a vida inteira falhou. E eu liguei só para admitir. Té mais, princesa.

Monday, March 16, 2009

Eneida, vou levar a sobremesa, querida. Tem essa receita de quindim; mamãe ensinou anos atrás, quando avisei que estava saindo de casa. Foi um jeito de a gente conversar, acho. De outro modo, teria sobrado choradeira - tão difícil arriscar os passos que envelhecem 100 anos. Enfim, vai menos ovo e mais coco. Mas o segredo mesmo tá no suco de limão. Espera pra ver.

Saturday, March 14, 2009

Se fosse um personagem de Beckett, eu
Não ia dizer, eu sei. Prometi. Mas tudo bem. Separe as suas coisas. Tome um chá. E corra o risco de ser feliz, indo embora. Leve alguma das suas coleções com você. Todo mundo precisa de lastro. Vou aproveitar para aumentar minha biblioteca. Ou refazer as estantes com latinhas de cerveja. Montar o que eu sou, pra mim mesmo, de novo. Pensei muito. Tive medo de ficar sozinho. Acordo à noite e durmo sem tomar banho. Sinto o estômago e o peito dobrarem de tamanho dentro de mim. Vou voltar a jogar Sonic. Comprar Nescau pro café da manhã. E andar pela Paulista, sossegado. Só uma maneira de lembrar que eu preciso, realmente preciso, da minha companhia.

Friday, March 13, 2009

Robin, o motorista, era um artista desempregado. No work, no art. Coleciono, pontuou Gisela. E tenho um mestrado na área. Good, perguntando para onde ia. Não sei. Aceito sugestões. Really? A-ham. Vocês são amarelos.

Friday, March 06, 2009

Joaquim Ricardo aprendeu a contar até 12 com 4 anos. Antes mesmo de conseguir repetir o próprio nome com as vogais e consoantes no lugar certo. Meses depois, perguntou de qual gosto a mãe mais gostava. Nossa, filho, são tantos. E ficou frustrado, porque só tinha vontade de Azedinho Doce. Aos nove, beijou a boca da Luiza, na cama da própria irmã, enquanto esfregava mão e coxa. Delícia. No ano passado, Ricardo, nome para os amigos, decidiu, em comum acordo, melhor a gente ir cada um para cada lado. Sônia passara os seis últimos meses falando em gravidez. De frente para a vitrine da Fast Shop, olhando o preço de um i-pod, preferiu a vitrolinha portátil que tocava o disco do Queen. Sentiu falta de um gostinho bom. Parou na banca, separou a Folha, mas Trident não adianta. Obrigado.

Monday, March 02, 2009

Olha, não acredito nisso, não. Pode dizer que tem dedo dela, que é o jeito dela, cosinha que só a Célia faz. Mas não acredito, não. Já vi de tudo na vida, Rebeca. Tudinho. E se ela realmente envenenou as linhas que leu na tua mão, juro que não como arroz doce nunca mais. Promessa.
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