Saturday, December 31, 2011

Tinha tempo que Alexandra escrevia e-mails, posts e recados, perguntando por mim, perguntando pelos amigos em comum, por tudo que andava diferente. Perguntava se eu ainda estava por aí, se alguma coisa era definitiva. Lia tudo, absolutamente cada linha, cada palavra, com atenção compatível com os anos que brindamos entre conversas sobre a genealogia das bengalas e picnics noturnos em parques da cidade. Alguma coisa acontecia, tem acontecido frequentemente: lemos o texto do e-mail e imediatamente ficamos distantes, até entregar a saudade, quando existe, a uma preguiça danada e invencível. Um preguiça que arrisca falar em nome dos sentimentos errados.

Alexandra não lê meus posts, não lê meus recados, não lê meu blog. Só quer ler os e-mails que não respondo. Vejo uma propaganda na televisão, que quase não vejo; um enredo sobre o verão, a vontade de reconstruir o mundo lá fora. Penso em alguma coisa para dizer no e-mail. Silêncio. Diria muitas coisas na sala de casa, na porta do prédio, as pessoas bebendo no bar a pouco mais de uma quadra. Acho que diria.

Sempre que estou cansado, cansado, calado, querendo falar pouco, jogando palavras para mim mesmo, coloco uma música; melhor se sei a letra. Canto comigo. Pouca coisa tem a mesma força e desata a avalanche de uma música que a gente canta com a gente mesmo. Reparo de novo: o corpo mexe solto, o olho embaça com duas ou três lágrimas que não existiam agora mesmo, e a melodia invoca a ideia do Deus que dança barriga adentro. Li em algum lugar.

Alexandra, aprendi a receita de um bolo de fubá. São 2 xícaras de chá de açúcar, 2 xícaras de chá de trigo e só uma 1 xícara de chá de fubá. É uma delícia; lembra muito o que a gente comia em 2003.

Friday, December 30, 2011

Faz falta uma tampa para medir o verde que vou colocar na Pintangueira. Tem um ano acabando e espero um futuro de raízes mais firmes e menos expostas.
"Você precisa ter esperança e, no entanto, não esperar coisa nenhuma. Erga, sim, os olhos na direção de seus anseios, Jakob; é o que você deve fazer, porque é jovem, desavergonhadamente jovem. Mas não se esqueça de desprezar aquilo que eles contemplam com tanta reverência." (Jakob Von Gunten, p. 62)
"É por isso que todo tipo de obrigação me é cara: porque nos possibilita a alegria da transgressão." (Jakob Von Gunten, p. 26)

Saturday, December 03, 2011

Moça muito bonita muito jovem ali na quinta mesa à direita não me olhou várias vezes; sei porque olhei para ela o mesmo tanto que ela não me olhou. Entendo: não há nenhum motivo para que a primavera contemple o outono. Ela amanhece; eu anoiteço. (Minha mãe se matou sem dizer adeus, p.40)
Chove choro. Ninguém percebe: melancolia excessiva impede a progressão do pranto; é tristeza que não se expõe. Senhor solitário ali na última mesa à esquerda também chora sem lágrimas; eu sei. Está dizendo-me telepático que viajou tanto para chegar a lugar nenhum, que no fim da festa é sempre assim: fica-se sozinho brindando sem saber o quê consigo mesmo; e que não vai se matar: que também feito eu não gosta da vida mas tem medo da morte. (Minha mãe se matou sem dizer adeus, p. 38)
free web stats