Tinha tempo que Alexandra escrevia e-mails, posts e recados, perguntando por mim, perguntando pelos amigos em comum, por tudo que andava diferente. Perguntava se eu ainda estava por aí, se alguma coisa era definitiva. Lia tudo, absolutamente cada linha, cada palavra, com atenção compatível com os anos que brindamos entre conversas sobre a genealogia das bengalas e picnics noturnos em parques da cidade. Alguma coisa acontecia, tem acontecido frequentemente: lemos o texto do e-mail e imediatamente ficamos distantes, até entregar a saudade, quando existe, a uma preguiça danada e invencível. Um preguiça que arrisca falar em nome dos sentimentos errados.
Alexandra não lê meus posts, não lê meus recados, não lê meu blog. Só quer ler os e-mails que não respondo. Vejo uma propaganda na televisão, que quase não vejo; um enredo sobre o verão, a vontade de reconstruir o mundo lá fora. Penso em alguma coisa para dizer no e-mail. Silêncio. Diria muitas coisas na sala de casa, na porta do prédio, as pessoas bebendo no bar a pouco mais de uma quadra. Acho que diria.
Sempre que estou cansado, cansado, calado, querendo falar pouco, jogando palavras para mim mesmo, coloco uma música; melhor se sei a letra. Canto comigo. Pouca coisa tem a mesma força e desata a avalanche de uma música que a gente canta com a gente mesmo. Reparo de novo: o corpo mexe solto, o olho embaça com duas ou três lágrimas que não existiam agora mesmo, e a melodia invoca a ideia do Deus que dança barriga adentro. Li em algum lugar.
Alexandra, aprendi a receita de um bolo de fubá. São 2 xícaras de chá de açúcar, 2 xícaras de chá de trigo e só uma 1 xícara de chá de fubá. É uma delícia; lembra muito o que a gente comia em 2003.