Se soubesse, Penélope, soubesse e teria dito Rodrigo, joder, por dónde has estado, chico? Sim, diria chico, não diria chaval, não diria hombre e não teria virado o pin com seu nome, enquanto, recém-saído da fila, pronto para pagar, tentava ler de novo, ler você, sabendo que era, que era, é, eu sei. Você, o rosto menos redondo, menos chiquilla, muito mais mulher, caramba. Disfarçar, a gente imaginou, timidez, falta de jeito ou vergonha, cinco anos depois, parece bem mais tempo depois, as ruas iguais, Deus meu, fazendo filme, fazendo vida, livros; não, Penélope, não quisemos o caixa da FNAC, o anúncio da Microsoft, o evento de final de ano de uma bebida cafona: nossos passeios continuam sem saber da crise mundial. Qué raro eres, Rodri! Eu sei: você não falava desse jeito. Paciência.
O aro vermelho dos óculos, tanta doçura, a calcinha econômica, o corpo moldado por uma mão suave, delicada, agora, daqui pra frente, mais coisas ainda vão lembrar você. O pin virado, você sabia que continuo sem ser daqui. Penélope, o tempo de lá, tivesse dito sim, tranquila, tivesse largado o emprego de verão, dado as mãos, tivéssemos corrido pela Rambla Catalunya, teria havido um beijo, teria havido uma foto, sexo com trilha buena vida, você viu, dos cds que comprei, reparou, muito mais saudades, graciosa. Minhas mãos menores no seu corpo, mais velho, já foi. Mas a gente tem vergonha, sem jeito, tem fome rasa e sonhos criptografados em códigos de barras. Soubesse, juro, outro conto com você, por você, pra você; palavras novas para embelezar o que a gente não chegou a fazer - exatamente. Amei você, chiquilla. Por três minutos, cinco dias, um mês inteiro. Não importa: suficiente quando a gente reconhece para sempre.