Há meia hora, nasceu o Tiago. Meu filho. A conversa do dia-a-dia deixa difícil dizer certas coisas, tão especiais. Queria poder falar do Tiago do jeito que eu sinto. Mas não consigo. Grande e pequeno. Euforia e desconfiança. Entrega e cobrança, nesses curtos trinta minutos. Tenho 30 anos. Quando eu ensiná-lo a andar de bicicleta, vou me lembrar do meu pai. E, não sei bem o motivo, do meu irmão. Talvez porque, no fundo, espero dele um pouco dos dois.
A Alessandra queria que eu olhasse para ela. Mas não consegui. A mulher espera esse dia. No meu caso, aconteceu. A barriga dela, durante os nove meses, continuou sendo dela. Agora há pouco, ela perdeu a barriga pro mundo, e acho que pensou que teria minha compaixão. Desculpe, Alê, meu filho nasceu. E, detesto repetir, finalmente virou meu também. Apesar do tanto que vou ter que dividir com tanto mundo.
Quando ele tiver 1 ano, vou somar um cachorro. Para ele ser mais ele. E mais eu.
Na minha frente, na porta do quarto à minha frente, aqui na maternidade, bem-vindo Matheus. Meu filho chama Tiago, jamais pensamos em Matheus. Nem em Roberto, Fernando, Bruno, Gustavo ou João. O nome do meu filho é Tiago. E seu sobrenome, o meu.
Em casa, vou colocar Discreet music para ele dormir. E colar dois pôsteres na parede do quarto, quando tiver 8 anos. Um show do Pulp, que vi em Barcelona, e o cartaz de Os sonhadores, que roubei em Buenos Aires. Desde cedo, vai aprender a magia das cidades com "B". Se eu tiver dinheiro, vai passar três meses em Berlim.
Meu filho nasceu. E não vai morrer nunca mais.
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