Patrick está com frio. Vem do terraço do apartamento, onde decidiu cortar as folhas amarelas da azaleia, cuidado seu, plantada num vazo de cerâmica. De volta, passando pela sala, apanha o livro que está lendo. Abre. Folheia devagar. Pensa num número: 43. E decide reler a página. O vento ainda atravessa a janela da varanda, aberta. Lê duas ou três linhas. E se lembra perfeitamente do conto. Coincidentemente, talvez pela brisa gelada, recupera a passagem de um romance adolescente, lido sob o sol, na areia fria da praia de Bogatell, em Barcelona. No livro que está lendo, o mar é quente e tropical. Um hotel em Acapulco. Enquanto se lembra de quatro amigos viajando pela Espanha, última viagem das nossas vidas, mudando e desfazendo-se, nas aventuras descobertas diante do Mediterrâneo. Patrick pensa no autor chileno do romance que resgatou da mesa da sala. Hoje, no final da tarde, depois de quatro anos, de volta à universidade onde, à noite, e só à noite, atravessara a Praça do Relógio, movido a luz (e a sombra) do sol. Patrick está descobrindo que as coisas, os livros também, ganham relação na história da gente. E sente frio. Quando rega a flor de maio, brotando em junho; quando relê um conto de Rulfo, pior, ou quando esfrega as mãos entre as pernas suadas de Solana. Delícia.
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