Tuesday, June 02, 2009

Patrick está com frio. Vem do terraço do apartamento, onde decidiu cortar as folhas amarelas da azaleia, cuidado seu, plantada num vazo de cerâmica. De volta, passando pela sala, apanha o livro que está lendo. Abre. Folheia devagar. Pensa num número: 43. E decide reler a página. O vento ainda atravessa a janela da varanda, aberta. Lê duas ou três linhas. E se lembra perfeitamente do conto. Coincidentemente, talvez pela brisa gelada, recupera a passagem de um romance adolescente, lido sob o sol, na areia fria da praia de Bogatell, em Barcelona. No livro que está lendo, o mar é quente e tropical. Um hotel em Acapulco. Enquanto se lembra de quatro amigos viajando pela Espanha, última viagem das nossas vidas, mudando e desfazendo-se, nas aventuras descobertas diante do Mediterrâneo. Patrick pensa no autor chileno do romance que resgatou da mesa da sala. Hoje, no final da tarde, depois de quatro anos, de volta à universidade onde, à noite, e só à noite, atravessara a Praça do Relógio, movido a luz (e a sombra) do sol. Patrick está descobrindo que as coisas, os livros também, ganham relação na história da gente. E sente frio. Quando rega a flor de maio, brotando em junho; quando relê um conto de Rulfo, pior, ou quando esfrega as mãos entre as pernas suadas de Solana. Delícia.
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