Monday, January 28, 2008

Na porta do vagão, observando o cordão de gente escorrendo pela escada. Todo dia, o mesmo tumulto, sem saber quem está fugindo de casa, ou simplesmente voltando do trabalho. Mas tratava de entrar depressa, ser o primeiro a passar a porta da estação Barra Funda. Ali, enquanto todos corriam por um banco, Rogério, esguio, colete de lã, dobrava a porta e ajeitava-se à entrada, no vão onde ficam os anúncios de curso de inglês com professores da USP. No cantinho, viajava seguro até a Sé, onde, infelizmente, o caminho pedia baldeação. A cada parada, observava quem entrava, apertado com o número de pessoas, crescente. E foi na República que o trajeto igual de dias tão parecidos ficou diferente. O vagão ia cheio, curiosamente com espaço fora do comum. Na mesma posição, de onde saía com facilidade todos os dias, e sem pisar no pé de ninguém, viu a garota atrasada, o risco do degrau, esbaforida, com duas sacolas, uma em cada mão, a malha vermelha, cabelo no rosto, espera que eu vou. Rogério, sem saber por quê, fez com a mão, atravessou a porta, pouco de força, aberta, e ela entrou. "Obrigada", ouviu dizer, de olho na marca fina e comprida na sombrancelha esquerda. "Bonita", pensou. E, nas caixas de som, em voz rouca e desagradável, a advertência do condutor, "Não impeça o fechamento das portas. Prejuízo à viagem de todos os passageiros". Rogério, a menina, os olhos dos dois nos olhos de cada um; na boca, o sorriso sem graça, o calor e a cumplicidade. "Muito obrigada".
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