O caminho do aeroporto sempre doeu em mim. Fosse ida, chegada de algum lugar. Largada de um sonho ou saudade de um projeto longe daqui. Dessa vez, não viajei. Decidi: "táxi, Cumbica, por favor". Mochila nas costas, quem sabe eu mude de idéia. "Não", disse a moça do balcão da Gol. "Estamos sem lugar no vôo que sai para Santiago". Deixei a fila, segui até o McDonald's, com vista torta para a pista de pousos e decolagens. Pedi um número 6, batata média e água de coco. Fiquei 10, 20, 50 minutos, talvez. "Se houvesse passagem". No caminho de volta, "venho de Santiago", o taxista me ouviria dizer. O que não é vontade de mentira? Vontade mentirosa, não: "desejo de mentira". Aí, desci a escada rolante, assobiando a faixa número dois do segundo disco do Juan Stewart. Olhei o painel: chegadas internacionais. Vindo de Santiago. Arrumei a bagagem no ombro, "é bom demais estar de volta". Quando faço um caminho pela última vez, gosto de saber que não haverá mais nenhuma. Em Madrid, soube que voltaria. Lisboa vai acontecer. E Tietê avisou que não será de novo.
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