Foi nesse ponto que deixamos nossa última conversa, brincou J., depois de um "epa, epa, epa". Onde foi mesmo?
Tinha razão. Enquanto passeávamos por Pinheiros, experimentando as coisas velhas da Benedito e um café ruim da Teodoro, falamos das mudanças que custam um esforço que a gente mal sabe medir; é fazer ou fazer. Cuidado, Pedro, depois, esse problema, que talvez não tenha começado com ou em você, vai virar seu. E vira. E você vai fazer outra viagem, vai arranjar outro trabalho, vai arriscar uma nova namorada... E a confusão vai continuar no mesmo lugar. Talvez de um tamanho e com consequências diferentes, mas com você.
Impressionante: J., desde as primeiras e rápidas vezes em que conversamos, tinha as senhas do atalho que, reto e direto, dava no meu estômago. Realmente impressionante. Sabia onde tocar, deixando claro o que deixava quieto para não doer demais.
Levantei e mudei um pouco de assunto, trazendo os outros para a conversa. Fui até a janela, olhei as luzes em efeito néon ziguezagueando na avenida distante. Observei o campo que ficava logo em frente ao prédio, vi que Buenos Aires ainda tem muito mais estrelas. Tranquilo aqui, né?
J. permanecia sentada, com N. no colo. Estavam os dois com sono, N. dormindo. S. me chamou para ver o resto do apartamento, olhar o quarto de N. e o terraço-barco. Subimos umas escadinhas, no estilo dessas que dão para sótãos em casas grandes. A porta é no teto, a sensação é mesmo a de estar mais perto do céu. Imaginei que, dali, de um lugar daqueles, numa noite gelada dessas, é bem provável ouvir alguma coisa muito parecida com a música que S. faz. Lindo, no?!
Talvez seja o frio, que estava muito forte; talvez seja a proximidade do mês do meu aniversário, talvez seja São Paulo e a pouca generosidade do ritmo e das relações de lá, mas, ali, com J., S., N., H. e C., as conversas e os gestos pareceram muito mais com o que deveriam ser. Amizade, música, cambios, territórios compartilhados e disponibilidade. Estamos aí, vamos aproveitar? Coincidimos em lugares, ideias e projetos - vamos agradecer?
Nos vemos a la vuelta.
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