Hummm. Éeeee. É. Rffffff. (E risada). Em alguns finais de noite de quarta-feira, a gente esquece que já jantou e come uma segunda vez. Sem fome, surpreso, porque a sensação de fartura não satisfaz. E a gente senta para escrever, uma porção de e-mails não respondidos, a preguiça de deixar tudo em dia. E um deles chama você por "hermano". E uma artista envia um quadro. E você diz: "do jeito que eu gosto". Aí, tem o livro na metade, microcontos inteligentes, palavras com falsas maneiras de improviso. Escrevendo, pensa: "já não preciso mais olhar o teclado para acertar o acento. Ou a letra 'a'. E a 'z'". Você planeja escrever sobre a conversa com o taxista. E o telefone toca, saco. E você perde a meada, apesar de saber que o papo começou no "tá vendo esse cachorro no adesivo do carro da frente? Saiu de moda". O cachorro. Saiu mesmo. E você calcula o tanto de coisas que anda fazendo, tão poucas perto das coisas inacabadas. E o? Mas tem e-mail de uma amiga video-dancer, pode ser? Vamos fazer um filme, tomar uma cerveja com os amigos? E você se dá conta de que a melodia que ronda os últimos dias é herança de domingo, a nota triste do acordeão de "A brisa", por Fotograma. Pediu pizza? Não, não, foi outro apartamento. E chega um e-mail novo, meio de longe, você imagina o remetente sentindo, longe, o cansaço que você sente, do jeito, mesmo jeito, que você sente. Porque escrever àquela hora, sobre aquele assunto, é o encontro mais próximo que tem havido no tempo da gente. Mas tem a dor nas costas, o texto do convite, o projeto que você precisa apresentar. E nada, nada disso parece justificar o tempo que toma dessa vida. Peço água, quando eu corria no quintal com arminha de feijão. Sem munição, só restava "arregar". "Arregão, arregão", pensou o dia inteiro, enquanto secava o próprio sangue com três cartazes, dois folders, um banner e um prisma para o novo produto da Ajinomoto.
<< Home