Dá saudade de mim. O valor da devoção, a força da entrega. Só eu sei a falta que isso faz. Fui eu que arrisquei; deixei cair para levantar. Fui eu quem segurou a lágrima e, em instantes, viu a lágrima escorrer. Depois de tanto feito, feito pouco para tanto tempo, veio um intervalo diminuto, pequeno demais para a avalanche de saudade. Um dia de inquisição, marcado para o desfecho, de onde o começo fica visto, menor, muito de longe. Eu sei a vontade que tenho de multiplicar o que fui e estou sendo, indivisível, pegado em cada lugar. Mas então. Então, existe aquela menininha que ficou chorando, chorando por ter ficado. Distante de tudo, da dúvida que ameaça a ordem, a aventura que recompensa tanto tormento. Vivo o tempo do de menos. "Isso é de menos", como se tudo na vida estivesse demais. De mais, não, em hipótese alguma. Corri atrás da saia debaixo de onde estariam filhos como eu. Corri em busca da saudade e da risada. Da resposta afirmativa, resposta que negava parte da harmonia fajuta bolada para acalmar. Inquietação. Inquisição da dúvida cruel, interminável e, por acaso, lírica. Quando descobri novas notas de um piano báltico, olhei para fora e, da janela, vi um mercado semanal. Virou trilha sonora de tantos sonhos e das saudades que sinto sempre. Desesperadamente, esperamos pelo dia em que, felizes, diremos: "acho que valeu a pena". Imediatamente, reprochados, ouviremos o "acho" interrogativo, a falta de certeza inquisitiva. Acho. Mas só eu sei a dor que ameaça romper nos momentos da insuportável saudade do que não volta mais. A temível saudade das anedotas que perderam a cor, tolas e compridas, infantis e velhas, tantos os anos que têm.
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