Lucas entra na sala de projeção. Ou põe o mp3 para tocar - já não distingue bem. Identifica no vídeo uma melodia conhecida. Se é um tema pop novo. Ou um hit de quando adolescente. Confuso com todas as imagens na parede, dificuldade saber se falta de legenda, ou sono bagunçado, com reflexos mútuos: os quadros da frente refletindo no vidro dos quadros de trás, no próprio quarto. Revê a intérprete que conheceu, anos atrás, numa apresentação pouco concorrida, mas seletiva, na Zona Oeste da cidade. Primeira impressão não é a que fica. É? Agora, num museu mais fino, com restaurante envidraçado e perfume francês, o auditório vermelho-extravagante, será que posso entrar? Hoje é gratuito, senhor. Isso: o tratamento dando a dimensão da importância do lugar. Não importa. Lucas pergunta ao segurança da sala à direita. E senta. Um banco alto, vermelho, de madeira, alguns obstáculos até se acomodar, completamente seduzido. Super-8 anula a sensação que teve, por muito tempo, só recentemente abandonada, de eternidade. Fazia as coisas, fazendo para sempre. Agora, ouve essa versão, tão melhorada, de uma banda que não impressionava, regra entre os adolescentes tardios da mesma idade. Enquanto assiste, sorriso nos lábios, repete: Mejorado, Mejorado. A atriz, pescada de uma cerimônia da vida real. Em seguida, recupera e põe em xeque a primeira impressão. "Tentou!". Performer e cantora, artista, impossível cachorro domesticado. Vestido rasgado. Diante das imagens, espantado, a vida de verdade, no vídeo, é pura ficção. E Magnetic Fields, ajeita o pé na tira de madeira do banco, merece essa segunda chance que recupera a permanência que não existe nas coisas.
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