Existe um bar néon numa rua sem saída, perto de Santa Cecília. Quando Joílson senta para tomar serveja, pensa que serveja se escreve com "s". No primeiro copo, olha as mesas ao redor, estuda a mulher do caixa e pontua o último assunto do dia. Tristesa, anota no guardanapo. Gira o paliteiro no centro da mesa. Sente o braço arrepiado, inteirinho. A gente precisa de serveja para sentir muita coisa. Segunda, pede ao garçom. Pode trazer a segunda. Gelada. Não faz mais frio em São Paulo. Estica os dedos, um poco acima da barriga. Esfrega as unhas, polindo as pontas machucadas. Estou ficando lonje, sussurra, baixinho. Lonje e virado. Pinça um cigarro do maço guardado no bolso da camisa, semi-aberta. Respira devagar antes da primeira tragada. A fumaça sai enquanto fecha os olhos, do cansaço e da preguiça. Repara na cadeira de lata descascada, logo à frente. Vermelia, confirma. Saudade dos churrascos na casa da tia, Clara na cadeira de praia, nem sinal do gole derradeiro, feito de pinga e limão. Ameaça um sorriso. E recolhe uma cosquinha molhada, nos cilhos. Sente a espuma cremosa juntando os lábios, mata o calor. De olho na Igreja do lado de fora, saudoso, discute com Deus, em silêncio, anda cansado, carente de socego. E, em coisa de meio minuto, arrepende-se, envergonhado. Cabeça quente, senhor. Sossego é com dois eces.
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