Claro, eu disse. Toda decisão é legítima. Se a gente vai disputar os terrenos da família, ou se o Robson não vai se incomodar em morrer com pouco dinheiro e sozinho. A Márcia - lembra dela? -, a Márcia verteu meio litro de gasolina na semana passada. Juro pra você: não achei ruim. Digo: não vejo nada de mal. Você pode escolher a vida felpada; difícil outra escolha, com filho no colo. O Renato foi pai aos dezesseis. Curiosamente, mudou menos a vida dele do que a do Moacir, aos 29. Abandonou bar, boteco e camiseta. Veio todo um pacote. Um amigo meu de Lima pegou dinheiro emprestado e voou para Buenos Aires na segunda à noite. Em casa, de férias, ficou com medo do copo de whiskey que não saiu da mesa. Depois, numa pizzaria da Av. Corrientes, foi bem pior. A solidão dói diferente no estrangeiro. Experimentou? Hoje, troquei duas ou três palavras com o Róger no msn. É vida, repeti. É vida. A Raquel, a ruiva meio rejeitada do colegial, sabe quem é? Pois é: engenheira formada, me disse, nesse fim de semana, numa peça de atores adolescentes. É decisão, rapaz. Rápido ou devagar, estendendo ou encurtando. Cada um com a vida que tem. E as vontades que assustam num cruzamento de duas mãos, numa noite sem farol. Normalmente, tomo cerveja num bar que tem vista para a Augusta. Raramente venho aqui. De lá, sinto muito mais medo das decisões que tenho tomado. Vai saber o motivo.
Chefe, você fecha lá pra mim? Põe a última e encerra, por favor.
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