Thursday, November 20, 2008

Entrei, sem jeito, difícil não ser cliente habitual - e chegar sozinho. A melhor alternativa: fingir que foi tudo casual; primeira vez, aqui, estava subindo a rua, vontade de um rodízio. Tem? Sentado, marcando a comanda, a quantidade de cada coisa, cobram o desperdício, mas pode repetir quantas vezes quiser. Ah, senhor, esqueci, o shimeji, um por pessoa, único que não pode repetir, certo? Shimeji ou shitake, o cliente escolhe. Escolho e como, um a um, com gosto, arroz e muito salmão, prefiro.

Coisa de 12 minutos, não mais, duas clientes consultam, outro dia, um cachorro ali no canto, posso? E se sentam, porque é calminho, as duas numa mesa de canto, no banquinho almofadado, na varanda, bem aqui, de onde eu vejo tudo de perto. O salsichinha teria chamado a atenção, não fosse a dona, protegida, protegendo, exageradamente familiar, convencido de não tê-la visto antes, de maneira nenhuma, igual ou diferente. Não tiro os olhos, fiquei na dúvida se do decote, ou do rosto, conversando, ciente da minha espionagem, disfarçando apenas, aquele rapaz não pára de olhar, sem dizer, com vergonha do ciúme que a amiga poderá sentir.

Mais e mais inquieto, estranhando, sei que é de algum lugar, conhece, a gente, ela e eu. E, então, de sopetão, o shoyu respingando, a camiseta meio sumiê, encaro, sei já, leitora do meu blog, do que eu escondo, e revelo, das histórias que invento, mais essa daqui, absolutamente seguro, é ela, sou eu, a vulnerabilidade dos que se lêem, pensei, nunca imaginei. E ela sabe quem sou, definitivamente. E escrevo para ela, sem planejar, e com a menor idéia de quem seja. Mas é.

Levanto, tímido, covarde, quem especula sobre o que sou, leitora, não saia do papel, a mesa, aproximo, vou perguntar as horas ou pedir a soja light, novamente invento, pensando no próximo texto, um post verdade, imaginação. Por favor, já sei, ela responde, fico mudo, é que, não, não, percebi já, domina a situação; meia hora, olhando, já vi, retruco, perdão, pensei, sensação de que conheci; sim, sim, anos atrás, fizemos juntos o cursinho para Humanas, lembra?, me decepciona.

Desencantado, abaixo a cabeça e despeço-me com um obrigado recolhido e fosco. Ela sorri irônica, assustando, sílabas altas, um prazer revê-lo, Rodrigus. E entendo que, generosa, assim como eu, dançando o jogo da ficção. Me lia.
free web stats