Contornando o Sena, o vento desenhando meus braços, se eu vou sentir saudade. Na minha parede lá de casa, o primeiro e o segundo quadro, brancos, pra você. Do lado de trás, o letreiro do barco, sem conseguir ler, ou entender, é muito ruim o meu francês. E me lembro do festival que vi em Montreal, o encantamento com um grupo porto-riquenho, pergunto de novo, ou volto assobiando até o quarto do hotel, onde a página 63 de Mais ao sul me faz sentir um frio tremendo. Quando estive aqui, da primeira vez, as banquinhas lá para cima, os livros do século passado, e do outro, na mão de quem peguei quando paguei só três euros por um Balzac que não li, impossível no original. Sentado, agora sentei, olho um senhor atravessando a ponte, um médico, suponho, ou um mágico aposentado, fantasio, na foto que enquadrei; sépia me faz pensar no dia em que um cachorro meu morreu, fugindo. No restaurante da pousada, aconteceu uma coisa, Fernando, a gente longe de casa, mamãe tem que contar, meu filho, eu sei, respondi, porque eu sabia, absurdo pode ser, o Zico morreu. E mamãe olhou espantada, depois esqueceu, mas eu sempre lembrei porque foi alguma coisa sem explicação. E quando entrei numa igreja descascada de Ouro Preto, não senti nada; inesperadamente fiz o sinal da cruz e disse "meloço" no lugar de "amén". Jeito que fazia o pequeno Yorkshire deixar a rosquinha de osso na minha mão.
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