- Você já comeu a Karina, Renato.
- Você acha?
- Certeza.
- É? Certeza? Do quê?
- Não sei. O jeito dela. Sempre esse jeito. De quem te adora ou te odeia. Nos dois casos, demais. A presença mútua de vocês é sempre um conflito. Nos dois, acho. Estou certa?
- Não. Bem, mais ou menos. A parte do "comeu".
- Vai, Renato. Não sou boba.
- Não mesmo, Marina.
- E o Fabrício nem tem idéia. Joga a vida pela fidelidade dela. Tanta certeza.
- Essa mesma certeza que você tem. Digo: a certeza de que eu comi a Karina.
- Anda, Renato.
- É sério. Foi quase, mas brequei no fim do caminho. Ele era meu amigo, melhor amigo.
- Se soubesse que deixaria de ser...
- É, talvez. Foi numa festa. Entrei a convite deles. Lançamento de um disco. Falaram "vem". Fui. Seriam duas semanas em São Paulo. Estava estranho. Fui. Mal me viu, a Karina elogiou. "Bonito". E a gente engatou uma conversa interessada, animada; o Fabrício ficou atrapalhado, percebi. Mas ela não largava. Inesperado. E a gente começou a dar risada, risadinha aqui, ali. Aí, comentei que ela ficaria linda num corte de cabelo - "o Fabrício não deixa". E foi indo. Fomos, na verdade. Ela falava mais perto. Eu, bebendo água. Estava tomando remédio, com uma dor no saco. E ela falando, falando. E se aproximando. Aí, decidi sair. Mudei de sala, de andar. E, no mezanino, encontrei o Fabrício, na escada, conversando com um boçal. Me chamou para sentar. Ficamos batendo papo numa mesinha. Tudo bem estranho. Não éramos de "bater papo". Quando a gente sentava num bar, até doía. Porque era sinceridade.
Imensa. As mágoas da vida, as heranças do tempo. O livro mais lido. E a fantasia inacabada. Nesse dia, não. A gente bateu papo, traindo a gente mesmo.
- E...? E a Karina?
- Então, de repente, apareceu de volta. "Licença", olhando para mim. Não entendi. Estava provocando mesmo. Não sei se tinham brigado, brigando ainda. Fato é que, três minutos depois, sentada, começou a passar o pé na minha perna. Apostei que era imaginação minha, desejo, vaidade, sei lá. A mesa pequena. Mas não. Foi aumentando, roçando mais e mais. E o esforço tremendo de seguir atento ao que o Fabrício dizia. Não se deu conta. E eu, excitado já. Fiquei um pouco incomodado com a baixaria. "Vou desaguar", brinquei. Quase caí, quando, em pé, a Karina emendou "vou pegar carona". O banheiro era misto e essas coisas. Entrei. Saindo, ela me devolveu para a cabine. "Sei que você tem vontade. E respeito seu respeito pelo Fá. Mas não vamos deixar para depois. Não consigo."
- Aí foi, claro.
- Não, não. Não, quer dizer, mais ou menos. Ela entrou, beijei com gosto, estava cheio de tesão. Desci o decote, vestido verde, lindo. Chupei a teta dela, rosinha, rosinha; alisei com o polegar, o olho meio fechado, completamente entregue. Ouvi umas gemidinhas tímidas, senti o corpo todo tremendo nas mãos. Levantou o vestido e tudo. Repetiu: "tá bom demais, Renato". "Não pára". E baixei um pouco da calcinha preta, vi a bucetinha dela, virei pedra. Um filetinho bem definido, a pele branquinha, um sonho. Naquela hora, claro. Beijei mais - abriu o cinto. Pediu de novo para não parar. "Vai, vai", ofegante. E eu ainda estava no pescoço, babando, cuidando para não gritar alto. Ela foi tocando, por cima da calça, da cueca. Tudo muito bom, cheio de risco de um vazamento precoce.
- Aí você meteu, Renato. Já mostrou que a culpa não foi sua.
- Não, Marina, não. Sério. O Fabrício é meu amigo, era, vai saber. Não meti, não. O saco doeu, me lembrei do remédio, o exame da tarde. Disse: "não posso". "O Fabrício é meu irmão". Só. Mas esquece isso, eles estão voltando.
<< Home