Monday, October 01, 2007

Sempre quis morrer num domingo. À noite. As coisas, digo, as ruas, as casas, mesmo o céu - ganham feição de "para sempre". O começo da semana vem depois da morte da última segunda, da útima terça e de todas as últimas feiras. Vindo da Zona Leste, escolhi a rua da Móoca, entre sobrados e comércio pequeno. A paisagem que mereceu o fim da minha vida. Meio escura. Em quando, uma pequena vila, escondida do movimento, longe da via de poucas árvores. As fachadas desmontando em pedaços de tinta seca. O tempo passa diferente no horário nobre de um domingo de velório. O silêncio faz alguma menção. Véspera de uma manhã imprevisível, experimentada pra lá do sol. E a cidade, feia, arrisca a sua delicadeza. How beautiful. O acaso, para não dizer ocaso, evita o plano de uma despedida violenta, de muito choro e dor infinita. Waking up in a distant place. Era para ser um domingo, um quarto com perfume de cânfora, uma música alta, agressiva, tamanha a tristeza. "Festina Lente" era; "Coro dos Peregrinos" pudera, ou as "Suites para Cello", do Bach, seriam. I don't know the time. Mas não. It must be night, cause it's dark outside. Sem saber por quê, rendido a indescritível sensação - só e simplesmente a vontade de morrer tranqüilo, sem desespero. Apagar a luz, com balanço, respirando em paz; o ensaio do último movimento; o resto de ar queimado com refrões suaves, em três acordes redondos de um pop alemão. Em inglês. I am lost in space. A parede de retratos da família, a caminho de casa no cair da tarde, o locutor de futebol gritando gol no rádio da Quantum. A namorada, o beijo na boca no buffet infantil vizinho da escola. O saco de roupa suja no terceiro dia de acampamento. A operação, porque existe - e existiu - apendicite. A torneira ensangüentada, a testa, a rosca e o pedido de ajuda. O sexo da primeira vez. A auréola umedecida entre o mindinho e a palma da mão. Subindo, subindo, é tesão. O copo de conhaque, o porre de bebidas incompatíveis, em doses sem gelo. O calor da depressão de quem, adiante, identifica a marca do fim. E o sinal de Caim. Num primeiro grande livro, o romance da vida, para lembrar, a qualquer custo, no dia da morte. Cá estou. Os filmes, tantos filmes. Agora, tudo isso. A morte agendada. O suspiro do mar. A voz soprada, a saudade dos amigos, Françoise Hardy. Definitivamente, melhor morrer assim. How beautiful. The'll always be a place that I can call "my home".
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