Aquela foi a primeira vez. Chegar em casa, pratos colocados. Desde bem pequeno, o lugar das coisas na mesa. Quando pensou em preparar a surpresa, e fez; quando decidiu "será hoje", e foi, teve a melhor das intenções. Abriu o armário, tanta prata perdida no fundo. Usou o mais bonito. Contou três pratos, eram três em casa. Depois, separou os talheres, o jogo americano, os copos, o descanso e os guardanapos - como era mesmo em inglês? Saiu; do jardim, trouxe uns cordões de Hera, tudo arranjado, delicado. A mãe chegou cansada; o dia era difícil, que vida complicada. Entrava sempre pela porta da frente. Atravessou a sala de estar, de onde viu a toalha bordada. Que bom. Mais perto, o garfo no lugar errado, que amor. Destacou uma folha do ramo enrolado, a mais branquinha; sentiu o perfume e guardou, tocada, no bolso esquerdo da saia. Riu: viu graça no jogo americano, enrugado, com exagero e candura, sobre a toalha amarelada. Chorou um pouquinho, tanto amor, meu Deus. Soube, com doçura, alegria no coração, obra do filho menor. Fechou os olhos, o rostinho dele outra vez. O cheiro da Hera, o tamanho do cuidado, a atenção. Que vida complicada.
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