Falava dos anos, pedaço pequeno do tempo. E eu falava de música. De literatura também, claro. Gastava mentiras com personagens indecentes, seres de outro mundo e sonhos bizarros, meus, tudo disfarçado. Ela citava o calendário árabe, o ano novo chinês. Os egípcios mediam as horas, o livro do Sponville, a eternidade e Wittgenstein. Eu, no tempo de Papá, Federico, sem saber pronunciar o sobrenome, Jeanmaire. O livro me lembrou um conto meu, cheguei a dizer. E daí, deve ter pensado. Gosto da estrutura circular em Antes da chuva, repetiu mais de uma vez. Prefiro o relógio atrasado do Conjunto Nacional, retruquei. Só provocação.
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