Tanta era a risada, indescritível a felicidade, que, num tom agudo de voz, incomum, bonita sem outra vez, gastou força só para dizer:
- Entendi, descobri tudo. Desistiram... Isso: desisitiram, tiveram medo, medo das próprias coisas, do diabo que são, que somos. Cada um.
Agitada, com o olho longe de mim, no plano do improvável, respirou aflita, engasgada no excesso de ar, aspirado com necessidade duplicada. Continuou:
- São assim porque não quiseram ser o que são. É essa, essa, é esse o motor para tamanha tristeza. Renunciaram, imagine você, renunciaram todos, em conjunto, em nome de nada, de alguma coisa que não deu certo em ninguém. Absurdo, sei bem. Ser o que o outro foi em nome de alguém. Sem fim, nem fundo. Um labirinto de falta de coragem, de precaução covarde. Entende? O Camus, o Camus, lembra? Em nome do nada, ou do tudo que valeu para os outros, valendo ainda. Ah, meu Deus, vê? Sei tanto, sem saber por quê. Meu Deus... Oh, meu Deus, que é dos outros também. Desgraça... Desgraçada. Tem tempo ainda? Venceram meu sonho? Posso ser? Vão cobrar de mim? Suporto uma culpa que seja minha?
Só me ensinaram a ser absolvido por alguém.
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