Friday, October 13, 2006



Não é mais. Quando falo o 'não', e demoro no 'é' longo, aberto, aumenta a aflição, por estar deixando de ser. A lembrança. A namorada. O melhor amigo. O cachorro fiel. O livro que estava lendo. Não são mais. Errei porque pensei que morreria, para sempre, no último dia. Estou caindo o tempo todo, em contagem regressiva. Não quero mais, também. Foram tantas luzes novas, tamanho o brilho diferente. Foi uma boca com gosto de Tartu, um banho sagrado, um disco em promoção, um médico cruzando o Sena, e tantos outros nomes de rios. Dão saudade e fazem falta. O sentido que têm; a ausência que dá saudade. Foram, sem ser mais - ao menos do modo ido. A torneira sem fechar, o forno estragado, a ducha gelada, a roupa em oferta, as relações em liquidação. Se eu choro? Com frequência, antes de dormir, no escuro da solidão. Medroso? Houve outro receio, maior, prefiro não contar. Vejo casos em que o tempo atrofia, quando substituímos o nome por 'Lilica'. Não são mais, enterrando-se, por fuga de um mundo que não tem espaço para mim do jeito que sou. Tão grande que é... Quando disse 'quero morrer louco', por primeira vez, não imaginei quantos disseram antes de mim. Licença para estar sozinho e em paz.
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