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A palma da mão atravessou o ar, cortante, feito transversal. Abri os braços, sei que sou pequeno na noite clara. Tanta a música que toca do lado de fora, fico sem saber dançar. Penso na estrela que brilha em Montevideo, ausente na vida que levo aqui. Sinto a aventura multiplicando, porque o tempo é feito de mim, no compasso que eu ensaio. Dedilho "hoje", solo "amanhã", só para rimar com as coisas que já foram. Ontem, entrei para a agenda de trabalho de um amigo - foi no mesmo dia, quando inventei um passo para a música que ele ensinou. Doeu, tropecei até, pensava que era mais que isso. Mas a expectativa erra na gente e salga na lágrima que escorre dos olhos cansados. Uma garota beijou minha bochecha direita e molhou uma parte do lábio. Sussurrou baixinho: "pena que vai secar um dia".
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