Monday, November 23, 2009

Quando digo que conheço o som do vento, e conheço, penso numa música que ouvi, mais de uma vez na vida, todas tremendamente especiais, sentindo um pouco de frio. O som do vento é como o sol ou a chuva, fechando um domingo. A pizza que comia na casa da minha tia-bisavó, gelada (a casa), tinha o mesmo tilintar do sino de vento que toca na varanda. Não é nada especial comigo. É o vento. Existe uma rua que fica deserta, à noite, do outro lado do oceano, num bairro de mais trezentos anos. Para baixo da terra, o assobio fica alto quando os trens do metrô estão estacionados. Pacaembu. São Paulo. Mil novecentos e oitenta seis. A multidão fazia "ola", o ruído mexia com os vizinhos - eu, com um copo cheio de pó de arroz na mão, só ouvi o vento. Quando leio Vidal-Folch, quando vejo Arcand, quando saio ou chego de viagem, quando sei que estou dizendo adeus. Meu cabelo não mexe, o olho não pisca... Se o braço arrepia. Não me perguntem o que estou olhando quando não estou olhando para ninguém. Essas coisas.

Quase como quando errei o braço na saída do colégio, não era minha mãe. Meu papagaio dizendo: "vou sentir vontade, vou sentir vontade", a primarada tomando picolé de limão, na caixa que minha tia trazia do mercado, debaixo do prédio do meu vô, com nome engraçado, Eliseo, Eliseo, acho que vou sentir vontade.

Depois veio a ideia de tocar a campainha e correr para o outro lado. Fui flagrado: só ouvia o vento.
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