Friday, September 26, 2008


Tenho mania de observar a juventude dos outros. Ou: nos outros, melhor.

Nessa sala, por exemplo, uma sala de três gerações. O quadro com o retrato do minha bisavó. Altiva, invencível. Ali, na cadeira de balanço, com 90 anos. Com um tempo próprio, a Aninha tenta montar as peças de madeira do brinquedo novo. Os doces no baleiro da mesinha central, as quinas protegidas em couro, alguém comeu a bala que estava aqui, 30 ou 40 anos antes, a bronca do meu bisavô, não conheci. Eu, sentado, agora, passando na frente dessa casa, abandonada, tão minha, e longe de mim. Lembro o "boa noite" que minha tia-avó deixava para o Cid Moreira, enquanto, na cozinha, a pizza ganhava gosto num forno antiguinho, azul-celeste. E, descendo a escada, ai, a cabeça alcançando o teto, meus primos de segundo grau pintavam a parede com sombras e formas de palhaço. E era só eu abrir o diário de uma prima, em 77, a marca de bombom e o filme em cartaz que vi com a Pati na última sexta-feita, 16 de fevereiro de. À toa, as pegadas do coelhinho da páscoa, detalhadamente adesivadas no chão, perdiam a cor no quintal, afundado, quando, há 15 dias, os inquilinos prenderam mais de três dogos argentinos brancos, as lajotinhas de cerâmica que eu não esqueci. Depois, a gente se equilibrava no muro, fronteira com as casas de trás, em família, tomando cuidado com o mijo de gato, levado para dentro, vai ter que lavar a mochila. E eu disse que tinha, mas não vi. Tinha, sim, tinha, dá o saquinho que eu acho, porque o Diego ganhou o relógio com o vale-prêmio que vinha dentro do pacote do salgadinho, na lancheira que comprou igual à da Thaís, também quero. Não sobrava para mim, porque, escondido, sempre dividi o lanche com o Rock antes de sair para o colégio, de manhã. E, há pouco, ouvindo "Faro", Juan Stewart, lembro tudo isso, apesar do sono e da vontade desesperada de ter tudo de novo, igual, mas sem lembrar, no ano que vem, talvez 2003.
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