Wednesday, July 16, 2008

Observe os mínimos gestos. A maneira de dobrar os dedos, de segurar os ombros, a fala mansa. Procure recuperar as opiniões mais banais, a lanchonete preferida, a marca de esmalte extraordinária A maneira como diz seu nome. E como conta a história do próprio casamento, depois de 10 anos ou mais. O tipo de decoração da casa, todos os objetos aparentemente simpáticos deixados à entrada. O jardim que contorna os muros lá fora. Repare, com discrição, a título de piada bem-humorada, nos vincos da gengiva, a cor dos dentes. Da frente e detrás. A região dos olhos, ao redor, as rugas que formam um semi-sol, nascendo na vértice das pálpebras, caídas. Com licença, achegue-se ao banheiro: o sabonete e o respirador. Quando os filhos entrarem na sala, cumprimente, monitorado um profundo resguardo. No excesso de conforto, molecada flagra segundas intenções. Cautela. Em seguida, palpite sobre a conta de luz do mês, o aumento do plano de saúde e o banho-e-tosa no Dogão. Cada coisa no tempo que lhe corresponder, começo e fim suficientes, não mais. Nada de atropelos, ou invasão. Ao notar um olhar distante, de presunção, pouco-caso com matiz de recorrência, espirre medonhamente, lavando o chão. Se não houver "ai", ou simplesmente um "porra", saiba, sem qualquer culpa, ou sombra de dúvida, que, sim, você está mais uma vez diante de uma perfeita calhorda.
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