Monday, October 15, 2007

Bruno, 1999, São Pedro

Ontem, morreu o Bruno, dálmata que dei ao Rodrigo, meu filho, quando completou 3 anos. "Vai ser difícil crescer sozinho", minha defesa: a Bia, mãe do Rodrigo, não gostava da idéia. Isso tudo, treze anos atrás. Agora, sentado, ouvindo Bryars, lembro que treze anos antes, na tarde em que o Bruno chegou, ouvia In the upper room. Poucas preferências mudaram tanto, tendo mudado bastante. Eu. Acho. O Rodrigo - agora com 16 - chorou. Muito. É que não é fácil crescer sozinho. A Bia não mora com a gente desde 2001: deu errado porque a gente tinha certeza de que daria certo demais. Não sei se a certeza era demais, ou se o exagero, o "demais", machucou o "certo". Não deu. Ficamos os três: Rodrigo, Bruno e eu. E, agora, nós dois. Quando saímos da clínica, as últimas palavras do veterinário, "vai fazer falta". Mudos pai e filho, anônimos na solidão, diante do jeito de ter saudade de cada um. Eu, abobalhado, pensei no domingo em que fui filho único em casa. Quando meu irmão mais velho decidiu morar sozinho. Depois de anos dividindo o quarto. Pensei mais nisso que na minha mulher. Ex-mulher. Não sei no que o Rô pensou. Cada vez que alguém sai da vida da gente, mata esse pedaço tão sagrado de mundo, a comunhão. Na terceira série, o Leandro mudou de colégio. No primeiro colegial, a Marília foi para Cuiabá. E eu, apesar de toda a dificuldade, tenho a convicção de que cresci, envelhecendo, sozinho. Nas datas de celebração, quando o assunto pesava, e pesava sempre, sentava na poltrona da varanda. "Vem, Bruno; vem, lindão". Esse silêncio, feito de amizade, essa comunhão. No enterro da minha vó, olhei para o meu primo e não falei nada. Ontem, o Bruno foi embora: passei a mão na cabeça do Rodrigo, quieto. E senti, com o olho aguado, a perda de cada conversa pesada, deixada de lado, no terraço de casa. Doída, sem deixar de ser bonita, a subtração de todos os dias, as quedas da nossa modesta contribuição. Conta esquisita, porque passei a vida inteira acreditando que era só adição. Sendo, bem verdade, de alguma maneira. Mas não sei explicar qual.

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