- Gozado, passou o tempo, passaram as pessoas, eu mesma passando: pensei que não tornaria a admirar alguém. Aí, veio você, o humor agridoce, o cabelo bagunçado, os coelhos da praça de Frankfurt, a cultura latino-americana, a decência, a decência, desculpe se sou enfática; bem, vem você, a teoria da ficção de cada um, a certeza de que todos morrem, de que os amigos desistem, de que "prefiro terminar louco"; a paixão pelas flores, a música de Arvo Pärt, a música do Bazar Pamplona, o texto de Castillo, as tartarugas, a beleza infinita de um cachorro, a denúncia da própria estranheza, a solidão experimentada. Então, entre assustada, muito admirada, peço para repetir, quero flagrar um momento de incongruência, um episódio condenável... E encontro, e aponto. E você, admirável, reconhece. E eu, encantada, porque a vida tem pessoas assim, encontros felizes assim, praças arborizadas, amizades estrondosas, sexo bom, sexo ruim, mãe e pai. Eu, feliz, em frente, no caminho, há de ter alguém, finito, um olhar sincero, uma risada fanática, um projeto delirante de vida bonita e mais. Vai, desse jeito, observo o que você fala, o que faz, cada vez com decisão maior, sabendo que o começo de tudo é a falta de sentido do fim. Aí, desavisada, contorno, troco as pontas, olho de novo. E recuo e avanço e espero tanto. Até que, rendida, me apaixono. E, cheia de lágrimas, porque confessa, você me acaricia, me toca e me repete: "acho que ainda não estou pronto".
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