A última frase que falei, não sei repetir. Olhando do trem, primeiro de perto, pouco depois, de tão longe, dei-me conta de que o tempo estava passando, passado já. Foi quando me lembrei do dia da chegada; as malas ralaram a palma da minha mão, vermelha; mas a oportunidade de reencontrar alguma coisa ausente aliviava toda dor que fosse. A franja estava diferente, o sorriso tinha alguma tinta desconhecida. Mas a raiz parecia ter crescido como haveria de ser em qualquer terra batida. Agora, com meses escorregados, com diversos escorregões no tempo do caminho, sinto como se, para sempre, houvesse o dobro, o triplo de sentido. Sinto que, na verdade, a falta duplicará. São dois momentos que não voltam mais. E muitos outros momentos que jamais poderão tornar. Aqui dentro, dentro de cá, há um loteamento especial para essa classe de lembrança que dói. No começo, era só um pesadelo de criança, quando, do alto do prédio em que morava, despencava para logo ser recolhido por uma locomotiva voadora. Depois, a súbita desaparição de Ico. Então, o lugar para as recordações foi ficando cada vez mais caro, só permanece aquilo de preço muito alto. Dessa vez, quando de novo haverá um tchau choroso, o pedágio será causa de empréstimos e prestações para toda a minha vida. O passo adiante assumirá o risco de valer a falta mais gostosa.
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