Voltando de uma visita à Faculdade de Medicina da USP, Juliana e Rafaela imaginavam um mundo à parte, espécie de sofá de casa, quando não toca o telefone, tv absolutamente apagada, ninguém para chamar na hora mais sagrada da música favorita. Se eu tivesse que arriscar, Rafaela e Juliana nunca converteriam a música em leitura favorita.
As duas no banco detrás. Engraçado: consigo lembrar exatamente a roupa e as unhas pretas, mas tenho ideia nenhuma de quem vinha ao meu lado. Estavam ouvindo Green Day, e ouvir Green Day, além de levantar um território inegociável em que só as duas podiam pisar, era também um grito para o lado de fora, ou seja, nós. Eram e tinham alguma coisa diferente. Eram e tinham essa alguma coisa que deixa claro que estamos longe daquele lugar.
Confesso que, por algum tempo, tive curiosidade pela amizade, espécie de pacto entre as duas. Sentia falta das histórias onde o vocalista e o baixista - das bandas que eu ouvia - se conheciam numa faculdade para mudar as próprias vidas. A classe média de São Paulo não quer mudar nunca nada.
Fui convidado para um almoço na casa de um quase amigo do trabalho. Rafaela apareceu com o marido. Fazia 15 anos que não via. Teve filho. Não trabalha. Engordou um pouco, não o tanto suficiente para impedir o shortinho jeans justo, curto e apertado. Rafaela puxou conversa, perguntou de mim. Chamou um brinde. Rafaela perguntou o que eu fazia, quem eu conhecia. Rafaela se insinuou.
"E a Juliana, você ainda vê?"
Diria que está todo mundo na mesma.
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