Faz dias já - não sei se começou nesta ou na semana passada -, tenho ouvido o toque do meu telefone. Eu concluo que é o meu. No banho, quando ligo o chuveiro, ou enquanto a água cai; no quarto, durante a arrumação das coisas da mudança, sempre toca alguma coisa. E eu escuto. E penso que tem alguém me ligando. E penso na sequência que abre o mui doído Era uma vez na América, entre um chamado e o delírio. Será que o meu telefone não toca?
Quando alcanço a tempo, quando atendo, a ligação não completa. E o número é desconhecido.
Dormindo, ainda não aconteceu. Só quando estou acordado, fazendo alguma coisa com a sensação de que esperam que eu esteja fazendo outra coisa. Antes, eu fazia. Por muito tempo eu fiz essa mesma outra coisa.
Agora, o telefone toca e penso nas pessoas que podiam estar me ligando. Faz tempo que não vejo o Felipe. E a Leandra. O telefone toca e não é ninguém.
Quando alcanço, quase sempre, foi só impressão. Ouvi o som. Ninguém falou.
O mais curioso, o incrivelmente curioso - se alguém souber explicar -, é, e me dei conta há muito pouco tempo, que o que toca, o toque que toca, do meu telefone, é do meu telefone de um par de anos atrás.
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